[Atped] Diário de Coimbra - Universidade entrega hoje candidatura a Património da Humanidade da UNESCOv

[luís barata <lbarata@ci.uc.pt>]

A Universidade de Coimbra entrega hoje, à Comissão Nacional da UNESCO, o «dossier da sua candidatura a Património da Humanidade», disse ontem o reitor da

instituição, Fernando Seabra Santos. O dossier, com «cerca de duas mil páginas, organizado em sete volumes», constituirá, simultaneamente, «o documento

que o Governo português apresentará à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)., em Paris, provavelmente durante o

mês de Janeiro», acrescentou.

A candidatura tem como «mote central» a «associação do passado, do presente e do futuro» da Universidade, o «prestígio da instituição» que se mantém na

actualidade e faz dela «uma grande universidade europeia no século XXI», sublinha Seabra Santos.

«A consagração internacional da Universidade é uma realidade», afirma o reitor, considerando que «as pessoas cultas, informadas, em todo o mundo, conhecem

ou já ouviram falar da Universidade de Coimbra».

Também por isso, Seabra Santos acredita que «não será muito difícil à UNESCO associar a essa realidade a consagração, o reconhecimento formal, em termos

institucionais, deste património, através da sua classificação».

«Os dados estão lançados, o percurso é irreversível», afirma o reitor, confiante na «qualidade do dossier» de candidatura. Por isso, conclui, «resta-nos

esperar», «acompanhar o processo e fazer o que seja necessário para o vir a concretizar-se em definitivo».

As intervenções no terreno «estão a ser e continuarão a ser feitas», no âmbito dos programas de Desenvolvimento Físico e de Requalificação da Alta, este

«financiado pela administração central, na sequência de uma visita à Universidade do primeiro-ministro, em 2007».

A Universidade está, «aos poucos e na medida das disponibilidades, a fazer a requalificação e as obras de raiz necessárias» para preservar e projectar o

seu património no futuro.

Esta candidatura não se limita ao núcleo histórico e central da Universidade. Também contempla, fora da Alta universitária, «a Rua da Sofia, na Baixa da

cidade, considerada, a justo título», com os seus colégios, «o primeiro ou, pelo menos, um dos primeiros campus universitários na Europa e, portanto, no

mundo».

Além da Alta universitária e daquela área da Baixa, a proposta de classificação como Património Mundial, também contempla, em torno destas áreas, uma «chamada

zona tampão» que acaba por corresponder a praticamente toda a Alta e toda a Baixa da cidade.

Significa isto, conclui Seabra Santos, que «nesta candidatura a Património da Humanidade é toda a cidade que está envolvida, muito embora o bem a classificar

seja a Universidade».

O processo, aliás, «não seria possível nem teria chegado aqui sem uma colaboração estreita entre entidades locais, como a Câmara Municipal, em primeiro

lugar, que têm permitido desenvolver o trabalho e chegar onde já conseguimos chegar».

Mas o empenhamento de diversas entidades locais não pode, sublinha Fernando Seabra Santos, fazer esquecer a «mobilização de outros investimentos, muito

em particular do Ministério da Cultura» ao promover, designadamente, a requalificação do Museu Nacional Machado de Castro e do Convento de Santa Clara-a-Velha.

 

?Vivência estudantil única? em destaque

A candidatura a Património da Humanidade «apoia-se muito» na vivência estudantil, «património imaterial» que faz desta «uma cidade única, no panorama nacional

e internacional», afirma, à agência Lusa, o reitor Fernando Seabra Santos.

A vivência e a cultura estudantis da UC, «a Associação Académica, o fado, a canção, as repúblicas de estudantes, enfim, todas as vivências de um património

imaterial único ? que é necessário compreender, acompanhar e preservar» ? são pressuposto fundamental da candidatura.

«É conhecido o percurso e a história desta universidade que tem 720 anos e, por isso, faz parte do grupo das primeiras universidades da Europa e, portanto,

do mundo», acrescenta o reitor, referindo que este é, igualmente, outro dos aspectos relevados na candidatura da instituição a Património Mundial da UNESCO.

 Mas a candidatura também destaca «a vertente do património material, físico, que parte da constatação de um conjunto de edifícios, nomeadamente, mas não

só, que tem estado à guarda da UC».

Seabra Santos refere, antes de mais, o Paço das Escolas, «um edifício com dois mil anos de ocupação ininterrupta, que começou por ser uma alcáçova islâmica,

foi Paço Real» (onde, por exemplo, «nasceram os primeiros reis de Portugal» e se «realizaram as Cortes de 1383») e onde, mais recentemente, a partir do

século XVI, é a sede da Universidade de Coimbra.

São também merecedores de relevo a Capela da Universidade (século XVI), a Biblioteca Joanina ou a Torre da Universidade (ambas do século XVIII), além dos

colégios jesuítas ou, por outro lado, o «notável conjunto dos colégios da Rua da Sofia», na Baixa da cidade.

Representando trabalho dos dois mandatos do reitor da UC (a eleição do seu sucessor está agendada para o início de 2011), o processo de «candidatura da

Universidade a Património da Humanidade teve os seus primeiros momentos em Julho de 2003», poucos meses, portanto, após a sua tomada de posse.

Quando a decisão da UNESCO, sobre a classificação da Universidade de Coimbra, for anunciada («em 2011 ou mesmo 2012»), Fernando Seabra Santos já não será

reitor de Coimbra, mas «isso é pouco relevante», afirma.

Verdadeiramente importante, frisa, é que a candidatura será apresentada e que os trabalhos no terreno continuarão a ser desenvolvidos. Trabalhos que passam,

exemplifica Seabra Santos, pelo antigo Colégio de Jesus, onde, no Laboratório Chimico, já está concluída a primeira fase do Museu da Ciência e pela Torre

ou pela Via Latina, cuja requalificação foi distinguida, em 2009, com o Prémio Europa Nostra.

Luís Barata
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