Espinhos de fogo que nos ferem
Há uma antecipação do fim que paira sobre as obras de Luís Ribeiro. Uma espera suspensa, melancólica, como a das personagens de Melancolia, o filme de Lars von Trier, onde tudo decorre sob a sombra iminente do colapso. O que vemos, ou talvez mais justamente, o que sentimos ao contemplar esta exposição, é o mesmo tipo de suspensão: personagens que sabem que algo se aproxima, mas não o conseguem nomear ou prever com exatidão. Uma proximidade incerta, mas inegável. É nesse estado de tensão — entre o agora e o que está por vir — que os desenhos e os vídeos de Luís Ribeiro se inscrevem.
(...) Espinhos de fogo que me ferem é, assim, uma exposição sobre o desassossego. Sobre a consciência de um fim que nos ronda. Mas é também uma meditação visual sobre a melancolia como forma de ver — e sentir — o mundo. Através do negro dos desenhos, Luís Ribeiro dá forma àquilo que escapa à linguagem. Um universo onde o tempo já não é cronológico, mas emocional. Onde arder é a única forma de estar.
Raquel Guerra Maio 2025
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