DESPORTO: a deriva do Património mais mal-amado pela Cultura e pela Academia. 1985-2022.
Terem-me voltado a pedir, novamente, insistentemente, uma opinião sobre (a deriva d’) o Museu Nacional do Desporto (instituído legalmente pelo
decreto-lei n.º 285/85, de 24 de julho de 1985, e iniciado pelo “Despacho de 1978” do então ministro Sotto-Maior Cardia) motivou este comentário aqui na “Museum”.
Já me tinha afastado há uns anos da questão do
Património do Desporto. O meu último contributo ocorreu em 2016, quando fui convidado a “falar disso” na Assembleia da República por ocasião do ano internacional dedicado ao “Desporto, Património da Humanidade” pelo ICOMOS. (O discurso está acedível
no “Arquivo da AR”).
Em 2008 propus um “Projecto de Museu Nacional do Desporto”, cuja cerimónia pública decorreu no Parque Eduardo VII em Lisboa. Na qual, o actual Senhor Primeiro-Ministro, na altura Presidente da Câmara de
Lisboa, fez um dos discursos de apresentação (juntamente com o Secretário de Estado e o Ministro da Presidência de Conselho de Ministros, perante uma assembleia composta por representantes das instituições desportivas e alguns dos mais reputados atletas e
técnicos). Referindo a razão por que apoiava aquele Museu e, até, o conceito museológico que lá era proposto. (O
Vídeo dessa apresentação e o documento desse Projecto de Museu estão acedíveis no
site do Instituto Português do Desporto e Juventude nas pastas designadas «Museu» e «DICRI»).
Talvez não haja Património mais mal-amado pela Cultura (e pela Academia) do que o de
Desporto. O Desporto é aquele domínio do comportamento humano que o
status quo e as elites consideram “impuro”. Todos (ou quase) têm vergonha de serem associados a tal assunto. A maioria acha que não lhes dá dividendos nem prestígio numa carreira académica. Esse preconceito tem uma razão de ser, e ela é
do foro antropológico, pois essa repulsa tem a ver com a função que a «instituição desporto» executa dentro do
Social (dentro do modo de viver em sociedade pelos humanos).
Por isso, talvez valha a pena repetir outra vez, na definição adiante, o entendimento sobre aquilo que me parece que «o Desporto é». E mais à frente, o
projecto de Exposição Permanente que o deveria estruturar:
Neste entendimento sobre «o que é o Desporto», (que aceito não estar escrito ainda em nenhum livro de qualquer autor reputado ou designado por uma Academia), a “explicação do Desporto” baseia-se
na interdependência entre as seguintes cinco realidades diferentes: «Corpo –
Cognição -- Comportamento (atividades e práticas físicas exteriorizadas, incluindo os jogos) --
Regulação social (desporto) -- Escolha da Relevância-valor (património)». Estas cinco realidades são consideradas variáveis independentes, descontínuas, e de nível lógico e de complexidade diferente (ou seja, não permitem uma relação de causa-efeito
direta e sucessiva entre si, apesar de estarem ligadas).
Acresce, ainda, ser necessário considerar que estas cinco variáveis funcionam dentro de um “modelo de compreensão do comportamento humano” possível de objetivar em termos científicos. Isto é, que permita descrever
empiricamente a ligação entre a realidade física, biológica, social e cultural às quais cada uma dessas cinco variáveis pertencem. Permitindo, portanto, não apenas, descrever com objetividade esse processo de relação e interdependência; como também, testar
e aferir empiricamente esta definição no confronto com a realidade concreta e com os dados históricos. Ou seja, permitir uma demonstração simultaneamente dedutiva e indutiva.
Assim sendo, este entendimento exige um Projeto de Museu (e uma Exposição Permanente) que se lhe adequem. Por exemplo:
Pedro Manuel-Cardoso |
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