[Museum] Os museus, os NFT e as festas de piscina.

[Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>]

Os museus, os NFT e as festas de piscina.

https://www.publico.pt/2022/10/04/culturaipsilon/opiniao/museus-nft-festas-piscina-2022545?ref=opiniao&cx=page__section

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Confesso que em matéria de NFT sou quase analfabeto. Tendi ingenuamente a vê-las como simplesmente nova modalidade de comercializar reproduções certificadas. Mas não. Percebi que é todo um novo mundo que pretende servir arte sem efectivo suporte material. Em Praga, durante a última Conferência Mundial do ICOM, em Praga, uma empresa comercializadora procurou convencer dos seus benefícios os milhares de profissionais presentes. O aliciamento era simples: “Ganhe dinheiro gerando chaves electrónicas únicas, que providenciamos com uma comissão de 20% sobre as vendas”. A cada um decidir o que quer ganhar: muito, se fosse ao limite de sacrificar as obras originais para as vender sob a forma de NFT; ainda bastante, se incorporasse nas colecções NFT criadas expressamente para serem comercializadas pelo museu; assim-assim, se apenas impedisse a fruição de peças do seu acervo por vias tradicionais; pouco, quase nada, se o objectivo fosse somente aumentar a oferta de reproduções para venda.

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Agora o patamar passa a ser outro e muitas mais festas de piscina poderão futuramente ser feitas: com a supressão do arrimo ao material, que pode mesmo ser destruído sem escrutínio (para mais incentivar a compra da representação digital - podendo esta também ser recriada, algo que a prazo se valorizará ainda mais), abrem-se todas as portas para um “admirável mundo novo” de negócio e de contentamento alienado e alienante. Com o tempo não haverá casa que não tenha moldura digital com “obras de arte” ao género de descansadores de écran, de artistas que o establishment diz serem bons, interrompidos por discursos dos “queridos líderes”. Os NFT passarão a ser como o “soma” da narrativa huxleyana. Ou, segundo preferia dizer Umberto Eco na sua viagem pela hiper-realidade dos museus na América profunda, permitirão atingir esse Nirvana em que “o real completo torna-se identificado com o falso completo”, sendo “a irrealidade absoluta oferecida como presença real”.

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