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[Museum] MUSEU DO SER-HUMANO. Reunião preparativa do projeto. 5 maio 2023.

To :   museum <museum@ci.uc.pt>
Subject :   [Museum] MUSEU DO SER-HUMANO. Reunião preparativa do projeto. 5 maio 2023.
From :   Pedro Pereira <pedropereiraoffic@outlook.com>
Date :   Fri, 5 May 2023 10:38:31 +0000

 

 

MUSEU DO SER-HUMANO

reunião preparativa do projecto

 

coord. Pedro Manuel-Cardoso

 

Oficina do Impronuncialismo, Campo Grande, Lisboa

5 maio 2023

 

 

 

O que é e quem é o Ser-Humano, hoje? Onde está localizado, de facto?

 

 

“O CORPO EM MUTAÇÃO”

(Pedro Manuel-Cardoso, 3 dezembro 2016, “O Corpo em Mutação”. Conferência a convite da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia / SPAE, Fundação Eng. António de Almeida, Porto)

 

 

EPÍGRAFE:

Alguns dos meus críticos dizem: «é um bom observador, mas não consegue raciocinar». Duvido, na medida em que a Origem das Espécies não é senão uma longa argumentação do princípio ao fim, e conseguiu convencer mais do que uma pessoa competente.” (Charles Darwin, 1887, Autobiographie)2.

 

Primeiramente, uma nova teoria é atacada porque é absurda; depois, admite-se que ela é verdadeira, mas óbvia e insignificante; finalmente, é considerada tão importante que os seus adversários reclamam que foram eles próprios que a descobriram.” (William James, 1907)3.

 

"Para o melhor ou o pior, agora, vivemos todos no mundo da CRISPR" (Science, 2015)4.

 

RESUMO/ABSTRACT:

O Ser-Humano está a afastar-se do Corpo4. E essa evidência desafia a pergunta kantiana5 fundadora da Antropologia: “o que é o Ser-Humano?”. E, portanto, o entendimento antropológico sobre «quem somos», «onde estamos», e «para onde havemos de ir». Com essa mutação do Corpo compreendemos que a Antropologia esteve durante muitos anos a procurar o seu «objeto» onde ele não estava. O conceito de «corpo» tradicionalmente aceite, desaba dramaticamente perante os atuais dados da ciência. Pois, com a definição de Vida6 atualmente usada pela biologia e pelas ciências da Vida, para a pesquisar dentro e fora da Terra, verifica-se, afinal, que o conceito de «corpo humano» não é senão uma associação pluricelular e molecular de milhões de seres vivos que convivem em simbiose e reciprocidade mútua dentro de um espaço (dito “corpo”). Esse tal Ser-Humano: ou não é nenhum deles, estando em todos eles7 (tal como um software dentro de um hardware, ou uma reação dentro de uma infraestrutura); ou, é apenas um deles. Só a partir de 20108 é que alguns, poucos, acordaram do sono darwinista e da ilusão quântica. Concretamente, após ter ocorrido a apócope genética em 12 de fevereiro de 20019, com a constatação de que a decifração do código genético (ADN) servia muito pouco para explicar e compreender o comportamento humano. E a seguir, com a constatação de que a tentativa de redução desse comportamento à quântica e à intrincação da física das partículas10 também era uma vã tentativa. Atualmente alguns dos náufragos do Beagle ainda tentam, desesperadamente, agarrarem-se às tábuas que sobram desse naufrágio, usando palavras e narrativas como: “epigenética”, “morfogénese”, “simbiose”, “etno-biologia”, “co-evolução gene-cultura (Ellen, 2006; Dickman, 2010). Todos acharam que Descartes (1637) cometera um “erro”, esquecendo o contributo de Hugues de Saint-Victor (1140)11 quinhentos anos antes. A proclamação de Rita Lévi-Montalcini12, prémio Nobel de medicina e fisiologia em 1986, foi o prenúncio dos quatro prémios Nobel, também de medicina e fisiologia, que ocorreram após 2000, concretamente de Eric Kandel, John O’Keef, May-Britt Moser, e Edvard Moser. Esta Conferência questionará essa ruptura contemporânea, e abordará a necessidade de a Antropologia re-formar e re-iniciar o programa de conhecimento sobre o Ser-Humano ultrapassando o impasse criado pela discussão do quarteto Sperber-Descola-Ingold-Latour13. Propondo que vale a pena trabalhar em quatro áreas: i) na investigação de um corpo do ser-humano diferente do atual corpo anatómico e proteico; ii) no território do comportamento especificamente do Ser-Humano (por exemplo, na investigação de uma Matriz e de uma Equação do Agir Humano14); iii) na explicitação de um modelo de Real (realidade/objeto/coisa) que descreva efetivamente como o Ser-Humano aplica o seu Agir15; iv) num conceito de Compreender/Compreensão que permita aceder melhor ao fenómeno bio-socio-cultural da Relevância16 (que está na base do estudo do Património).

 

 

Cumprimento os Presentes, e,

Agradeço à SPAE, e ao Professor Victor Jorge, o Convite,

que muito me honra.

 

No Colóquio organizado em Paris pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS) em 14 de novembro de 2011, e depois, na revista “Ciências Humanas” em janeiro de 2012, escreveram:

  • Mais fragmentadas do que nunca as Ciências Sociais abandonaram o projeto de revelar a condição humana1.
  • Tentaremos que a Cultura e a Sociedade sejam um meio para compreender os comportamentos humanos, e não para compreender esses conceitos em si mesmos»2.

Ou seja, parece que depois de terem ficado demasiado tempo presos ao Relativismo e ao Pós-Moderno (como ainda hoje se vê nos curriculae dos cursos de antropologia nas universidades públicas) - construindo o saber antropológico em cima das noções vagas, como as de Indivíduo, Cultura e Sociedade - este regresso à «especificidade do Ser-Humano» augura, no mínimo, uma re-leitura da Antropologia.

No resumo/abstract desta Conferência escrevi: «O Ser-Humano está a afastar-se do Corpo». Alguns dados elucidam o sentido que quis atribuir a essa afirmação, e a sua pertinência.

> Em 2013, uma equipa da Universidade de Pittsburgh fabricou um coração com células estaminais retiradas da pele.

> Em 2014, na Universidade de Nova Iorque, foi possível criar Vida a partir de um cromossoma sintético desenhado em computador por uma equipa de sessenta biólogos moleculares.

> Em 2015 - através da manipulação de proteínas - a equipa do prémio Nobel Erik Kandel3 conseguiu dar a memória da juventude a um rato idoso que a tinha perdido.

> Em 2015, no Instituto de Medicina Regenerativa Wake Forest nos EUA, uma bio-impressora 3D conseguiu imprimir estruturas ósseas e musculares que se converteram em tecido vivo funcional com vasos sanguíneos.

> Em 2016, na Universidade de Sidney “começaram a experimentar medicamentos que substituem os efeitos fisiológicos do exercício físico no corpo humano”.

 

Ou seja… da pele fizemos um coração. Com uma bio-impressora fizemos tecido vivo. De proteínas refizemos a memória. Com a bioquímica substituímos os efeitos da atividade física feita com as pernas e os braços.

São centenas de resultados e descobertas como estas que hoje se sucedem exponencialmente10. Que nos dão consciência de um Corpo fabricado que, em breve, substituirá aquele a que estávamos habituados. Afinal Descartes45 tinha razão, não é na motricidade que está o autor.

  • Este facto provoca um problema científico e lógico relativo ao Corpo Humano, que é o motivo desta Conferência.

Vamos substituindo as partes do Corpo por outras, porém, o agir propriamente humano e a consciência-de-nós não se perdem. Quando nos dói o corpo, afinal, dói-nos uma qualquer parte, a que um médico chamaria o local da sua especialidade, cuja substituição não afeta a «coisalidade do Ser-Humano».

  • A noção de «corpo» é afinal subjetiva, e não passa de uma teoria de conjunto ou de uma teoria do sistema. E esse facto questiona o lugar e o objeto da Antropologia.

Presumimos que o Ser-Humano morre quando o corpo deixa de funcionar. Esse é o critério da morte legal, aceite pela Justiça, pela jurisprudência e pelos tribunais... Era o mesmo que olhar para um campo seco no verão, e presumi-lo morto na próxima primavera.

Alguns factos merecem reflexão…

Consideremos os resultados da investigação à Vida, nos últimos cinco anos, publicados nas revistas científicas mais prestigiadas.

 

Verificamos que em 2013 a Definição de Vida foi apresentada como: “…um sistema químico autónomo capaz de seguir uma evolução darwiniana11. E em 2016 foi acrescentado o seguinte: “a criação de seres vivos ocorreu a partir de matéria inerte através de processos de auto-catálise21 e de processos de auto-organização22, e o «aparecimento de novas espécies de moléculas por via química» segue o mesmo padrão do que a evolução dos «organismos que se reproduzem sexualmente, por meiose»”12.

Por outro lado, a Biomecânica, define a atividade física do ser-humano como “qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulte num gasto energético relativamente à taxa metabólica de repouso13.

Ora, mesmo optando por uma Epistemologia Realista14 – e não por uma Epistemologia das Transcendências – é evidente que o Ser Humano não pode ser reduzido apenas ao atual conceito de Corpo; e o Agir Humano não se pode definir assim em termos antropológicos. Há uma especificidade que escapa.

Porém, é esta, hoje, a definição de Vida para a Ciência.

E essa definição obriga a optar por uma de duas hipóteses:

i) Ou. o Ser-Humano é uma associação pluricelular e molecular de milhões de seres vivos que convivem em simbiose e reciprocidade mútua dentro do Corpo Humano, não sendo nenhum deles;

ii) Ou, em alternativa, é um deles, e ainda não sabemos qual é, nem a que escala está.

Ou é um Todo, e, portanto, está em todas as partes não estando em nenhuma totalmente, como disse Giordano Bruno em 1584 (e nesse caso seria uma espécie de fantasma imaterial);

Ou é uma Parte, e, nesse caso, é um corpo concreto.

Em qualquer uma das opções continuavam a ser válidas as observações empíricas de que: por um lado, não é afetado pela re-fabricação e pelas substituições das partes; e por outro lado, que detetamos o seu funcionamento como uma espécie de software dentro de um hardware, ou uma reação dentro de uma infraestrutura ou de um conjunto.

Ou é um fantasma imaterial, ou é um corpo concreto. Mas não é, de certeza, o «corpo Humano» tal como o definimos atualmente.

Mas seja como for, nalgum lugar tem de estar o objeto da antropologia. Porque senão, é a Antropologia que não está em lado nenhum.

O que nos conduz à pergunta: «De que modo o ser-humano e o seu agir (comportamento) podem ser investigados como uma coisa, como um corpo? Onde está o ser-humano? Onde está, efetivamente, o seu corpo?

No início de qualquer curso de Antropologia ensina-se como o Corpo morre. Diz-se, que é um processo que passa por quatro fases. Que, em 64 dias, em média (dependendo da temperatura, da humidade, e da pressão), ficam apenas os ossos sujeitos à diagénese, num processo de decomposição do colagénio (proteína) e dos minerais que pode demorar anos ou décadas, e até pode fossilizar16.

As perguntas dos colegas - nessa iniciação antropológica de jovens estudantes - ficam-nos para sempre na memória. Perguntamos uns aos outros: «mas o Ser-Humano morre logo; ou também agoniza durante esses 64 dias, até ao corpo desaparecer?»

Porém, depois disso (nesses tempos antes-de-Bolonha, em que tínhamos 4 anos obrigatórios de disciplinas de Etnografia em horário completo) desfilavam centenas de relatos dos comportamentos humanos em sociedades e culturas, as mais diversas, de Oriente a Ocidente, e de Norte a Sul. Eram necessários 4 anos de leituras comparadas, sobre os modos diversos do ser-humano se expressar social e culturalmente.

E para nossa estupefação, nesses dados empíricos da Etnografia, o Ser-Humano não era esse tal Corpo feito de proteína e minerais, que desaparecia em 64 dias. Mas, outrossim, um espírito viajante e mutante com a capacidade de se metamorfosear.

Concretamente, tomando à letra os documentos etnográficos: - i) Um Ser-Humano imbricado nos «totens dos Povos ditos primitivos»; ii) Ou, imbricado na «panóplia de objetos e animais que eram adorados nos sistemas mágico-religiosos das «sociedades sem escrita»; iii) Ou, concebido como o “escaravelho do Egipto Antigo”, em que: “se acreditava na vida eterna para a qual se preparavam nesta vida17; iv) Mas, se fossemos ao Oriente mais longínquo, também verificamos que se acreditava, pelo menos desde o Rig Veda há mais de 3700 anos (1700 – 1100 a.C.), que “o «eu» verdadeiro de cada pessoa (Ȃtman) é eterno”, e que toda a materialidade (realidade) não passa de avatares, que se sucedem num ciclo contínuo de nascimento, morte, renascimento, onde opera a trindade: Brāman (criação), Vishnu (construção), Shiva (destruição); v) Para os crentes no Hinduismo ou no Budismo, um Ser-Humano que re-encarna em toda e qualquer materialidade; vi) Para os crentes no catolicismo, um Ser que pode ressuscitar e re-materializar noutro lugar (epístola de S.Paulo aos Coríntios); vii) Também, temos relatos etnográficos de um Ser-Humano pleno de misticismo, que até «palestrava para as pedras e para os peixes» viii) Na religiosidade anglo-saxónica, o Doppelganger (o Duplo) está omnipresente, tendo sido eleito por Helmuth Plessner18 como uma das estruturas básicas da especificidade humana»; ix) Nos Tempos Modernos, do séc. XIX, assistimos à proliferação das «heteronimidades» da Pessoa humana, algumas até têm estátuas nas nossas ruas; x) E, hoje, surgem os novos inquilinos do Real, que transformaram o corpo humano em segundas-vidas na quântica da Internet/WWW»; xi) E, assim, sucessivamente em tantos exemplos sem fim.

De um lado, um corpo enquanto coisa e objeto pertencente ao mundo da física. Do outro, um espírito mutante pertencente ao mundo do simbólico e das significações, que reincarna, ressuscita, e se transmuta enquanto imaterialidade sem massa nem física.

Esta contradição era, em si mesma, o processo de iniciação ao conhecimento antropológico. E, hoje, ainda continua a ser.

Razão pela qual, talvez seja útil, regressar às origens, para se re-ler o programa de conhecimento da Antropologia. Agora, talvez, mais despojada do antropocentrismo Renascentista, do evolucionismo Moderno, e do relativismo Pós-Moderno.

ONDE ESTÁ O SER-HUMANO, AFINAL?

O meu lugar é onde estiver o meu pensamento e a minha capacidade de duvidar45. Ter-se-á Descartes enganado, acerca do lugar do verdadeiro Corpo do Ser-Humano?

Heidegger, em 25 de maio de 192419, ainda foi mais longe, e perguntou: “Onde está o Dasein? Onde está o corpo do ser do «ser que pensa e age»?

À luz dos atuais dados da Ciência o corpo humano, em termos lógicos e empíricos, não pode ser o corpo do ser-humano. Parece que a Antropologia andou tempo demais a procurar o seu objeto no sítio errado. Não acreditou na sua Etnografia.

O problema já não é, entre a Metafísica e a Epistemologia43:

> O problema, hoje, já não é: se a Alma vai para o céu / o Corpo vai para a terra / e a Pessoa não sabe para qual desses dois sítios há-de ir.

> A questão já não é entre Monismo e Dualismo: se se é uma Máquina20, ou uma Existência19. Nem entre: «o que é» de Descartes (1596-1650), Hobbes (1588-1679) e dos outros Materialistas; e, o «quem é» de Espinosa (1632-1677), Leibniz (1646-1716) e dos partidários da Fenomenologia.

> A questão já não é, o impasse entre Natureza e Cultura, criado pelo quarteto: Dan Sperber – Philippe Descola –Tim Ingold – Bruno Latour41.

A questão, agora, é, saber se o Ser-Humano efetivamente tem um Corpo ou não.

>Mais de metade do corpo humano não é humano. As células consideradas humanas perfazem apenas 43% da contagem total, o resto são bactérias do microbioma” (Ruth Ley, Max Planck Institute).

>Geneticamente somos mais micróbios do que humanos” (Rob Knight, Universidade da Califórnia/San Diego/EUA).

Permitam uma imagem para elucidar o raciocínio: - Imagine-se um observador exterior à sala onde estamos. Esse observador ouvia-nos, e dizia: “estão lá dentro”. E tomava o nosso corpo pela infraestrutura desta sala; porque era apenas isso que a sua percepção lhe indicava. Porém, como é evidente para nós, que estamos cá dentro, o nosso corpo não são as paredes desta sala. Seria o mesmo que tomar o piloto pela nave.

O que o nosso limite preceptivo e cognitivo deixa de ver, ou deixa de poder observar empiricamente numa determinada época, não pode ser tomado pelo resultado final - excepto se decidirmos que empiricamente já chegámos ao fim da escala das coisas. Quando deixamos de ver funcionar um corpo (ou a parte que tomamos como sendo a sua totalidade), isso não explica nem demonstra cientificamente a impossibilidade de um outro corpo poder accionar aquele (ou aquela parte) que só somos capazes de ver num determinado momento/época. Aliás, o que a história da Ciência nos ensina é, uma sucessão de descobertas de corpos dentro de corpos, tanto na escala do infinitamente pequeno como na do infinitamente grande - desde o sistema linfático até às células, do ADN até aos átomos, e destes até aos quarks e neutrinos. Um processo20 que tem mais de 13600 milhões de anos, e que não cessa de prosseguir essa lógica de «integração – desintegração – reintegração». Essa história, é a história de julgarmos que «o Tudo considerado numa época», afinal, estava dentro daquilo que na mesma época considerávamos o Nada - desde o éter intergaláctico, à inexistência de Vida nas profundezas do mar sem acesso à luz, ou à presunção da inoperância dos 98% dos genes não-codificadores dentro da molécula de ADN humano44. Portanto, não estou a dizer nada que não possa ser, mesmo que não seja.

Em termos Evolutivos, a relação de um com o outro, talvez seja: primeiro, idêntica à de uma coisa que germina de uma semente (ou se emancipa de um ovo); mas depois, idêntica a uma Decisão que manipula uma máquina.

Ora, se assim for: de que Física é essa, que entra nas coisas e nos outros corpos? Onde está o Corpo do Ser-Humano propriamente antropológico? De que habitáculo necessitará, e de que paisagem humana será feita os seus próximos Ambientes?

Esta reflexão podia prolongar-se em termos lógicos37 por muito mais tempo, mas aqui-e-agora, não há esse tempo. Assim, para abreviar indicaremos apenas as condições que impusemos à Investigação, e se houver tempo no Debate alguns resultados alcançados até ao momento.

A nível Metodológico definimos seis exigências:

1ª Exigência… Partir da hipótese de que o Corpo do Ser-Humano, em termos físicos e químicos, é diferente do Corpo Humano

2ª Exigência… Procurar descrever o Agir Humano (comportamento) e a Vida Especificamente Humana como uma reação com a propriedade química de Decisão, que evoluiu em complexidade até aos dias de hoje, cuja principal habilidade (output) é Codificar tudo aquilo que recebe (input).

3ª Exigência… Procurar o Corpo do Ser-Humano como sendo «a Física dessa reação química com essa propriedade de Decisão».

4ª Exigência… Investigar o momento em que ocorre o início da formação de um Corpo Especificamente Humano a partir do aparecimento da Estratégia de Vida Eucariote20 há 1600 milhões de anos.

5ª Exigência… Ter por premissa, que a escala e a dimensão desse Corpo será provavelmente menor ou igual à das escalas onde ele conseguir entrar. Portanto, estar preparado para encontrar esse Corpo do Ser-Humano dentro de outros corpos/objetos com os quais partilha a existência molecular, proteica, e mineral.

6ª Exigência… Exigir que a descrição dos resultados da Investigação possa ser feita numa base matemática para permitir a convergência entre a linguagem bioquímica, a linguagem informática, e as linguagens simbólicas e culturais.

PARA TERMINAR PERMITAM QUE ACRESCENTE O SEGUINTE,

De facto, estes avanços e mutações no saber antropológico conduzem-nos a um novo tempo e a um novo paradigma do Conhecimento. E desafiam a pergunta kantiana37 fundadora da Antropologia “o que é o Ser-Humano?”. E, portanto, o entendimento antropológico sobre «quem somos», «onde estamos», e «para onde havemos de ir».

Desafiam o próprio modo de formular a Pergunta38. Em que a palavra Ser-Humano deixa de ser um substantivo, e passa a ser um adjectivo de algo que desconhecemos... mais do que julgávamos.

Porém, perante esta realidade atual, uma coisa parece certa: é impossível negar a pujança da Antropologia hoje.

Muito Obrigado.

 

 

Pedro Manuel-Cardoso


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