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[Archport] Património


•   To: archport@lserv.ci.uc.pt
•   Subject: [Archport] Património
•   From: "Joana Santos" <azrael_jo@hotmail.com>
•   Date: Thu, 29 Dec 2005 22:07:38 +0000

Caros colegas,

Devo confessar que é com algum agrado que vejo de novo retomado aqui neste "forum" o tema do Património que, como é sabido, é um tanto ou quanto sensível e polémico.

Como já foi referido, torna-se evidente o facto de haver dinheiro para tudo, menos para o património. Na minha opinião é uma questão de mentalidades. Quantas vezes não se ouve dizer "o progresso tem de continuar", face ao embargo de obras devido ao aparecimento de vestígios arqueológicos, ou mesmo "a barragem devia ter sido construída", relativamente à questão das gravuras de Foz Côa, ao fim de tantos anos...

Continuam a ser destruídos vestigios e sítios arqueológicos, com ou sem conhecimento dos arqueólogos, que ao que parece começam a mudar as suas mentalidades, uma vez integrados nas empresas de construção. Ainda que sejam estas as entidades que empregam, será que os profissionais perdem o seu dever ético e deontológico de salvaguardar os testemunhos do passado??

Parece-me que grande parte do problema passa pela divulgação de informação.
Quantas pessoas em Portugal terão conhecimento do valor científico das gravuras de Foz Côa, de forma a poderem acarinhá-las e defendê-las?? Gravuras há em todo o lado (E perdoem-me o exagero...)... mas conhecerão os contributos científicos que estas proporcionam? Como é possível, após se visitar o local, dizer que o ideal teria sido retirá-las e colocá-las em museus?? Isto, sem contar que o conceito de "Museu" em Portugal continua extremamente antiquado, sendo visto como um local onde ainda é necessário baixar a voz para não incomodar, e onde a interacção com o visitante é mínima. Temos, portanto, museus tradicionais e ultrapassados..


Será que os portugueses têm consciência de que só são portugueses porque existe todo um património cultural, arquitectónico,..., construído ao longo de séculos de história, que suporta esta identidade?

Penso que será necessário reforçar todas estas ideias. Explicar ao cidadão comum porque é que um "monte de pedras" se torna tão importante, e porque deverá ser acarinhado, defendido, protegido. No entanto, não deverá ser uma coisa feita de forma efémera. É uma ideia que tem de manter-se viva no espírito de cada um.

Ainda assim não é conveniente que a classe de profissionais ligados ao Património, na qual se inserem os arqueólogos esqueça o seu vital papel nesta propagação de conhecimento e informação.
Quantas vezes há trabalhos que não são alvo de publicações finais que supostamente deveriam dar conta do que neste foi desenvolvido?? Se a divulgação não acontece no seio científico, que dizer face ao público em geral?!
Não deveria haver mais propagação de informação??
Uma pessoa que não está informada, ou que não procura voluntariamente essa informação, não pode proteger uma coisa que desconhece!
Temos que levar este tipo de ideias à casa das pessoas.
Se calhar também ninguém procura as tretas das companhias da TVI (peço desculpa por esta parcialidade), ou as novelas brasileiras da SIC, mas o certo é que estas chegam a casa de cada um de nós ao longo do dia-a-dia e encontram-se "na boca do povo".


Sucessivos crimes contra o património continuam a acontecer, sem que sejam conhecidos publicamente. Basta referir o que sucedeu no "Castro de Vieito", frequentemente conhecido entre nós, mas completamente abafado no que refere ao conhecimento geral. Inúmeras polémicas são levadas à comunicação social, porque não terá sido esta levada também?!

Apesar de recém-licenciada, não me sinto conformada com a situação do nosso Património e penso que muito pouco é feito por quem de direito relativamente a este assunto. Não podemos apenas ficar a olhar a destruição de mais um "castro", de mais uma mamoa, da Casa de Almeida Garrett, de um troço do Aqueduto das Águas-Livres, só porque dá jeito a alguém ou porque à partida não existem outras soluções viáveis.
Quer queiramos quer não, temos responsabilidades acrescidas na salvaguarda do que é nosso, e está na altura (e mais vale tarde que nunca!!) de fazer algo concreto para demonstrar a nossa insatisfação e as nossas pretensões de alterar as mentalidades nacionais perante o quadro negro que afecta o Património.


Triste ou não, inaceitável ou não, algo tem de mudar...
Por agora é tudo.

Com os melhores cumprimentos,

Joana Valdez

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