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Sem querer deitar « mais achas na fogueira » nem « água na fervura », gostaria de lembrar que qualquer povo que tem orgulho na sua pátria, tenta preservar ao máximo o seu património histórico-cultural, seja esse património uma casa onde nasceu, viveu ou morreu um (grande) escritor ; os seus escritos, o que resta dos seus ossos, etc. Na Alemanha até a casa dos pais de Beethoven foi conservada e transformada em museu. ! Mas, em Portugal, todos sabemos que a nossa preocupação é sobretudo festejarmos os grandes « vultos » estrangeiros, temos um deslumbramento e um fascínio por tudo o que não seja património nosso mas do vizinho. Este tema dava « pano para mangas » como se costuma dizer. E contrariamente ao que muito boa gente julga, esta nossa vassalagem ao estrangeiro, em detrimento do que é português, não é de hoje. Permito-me fazer referência a dois episódios da nossa História que ilustram bem o que digo. Esses foram porventura os primeiros de uma longa, mesmo exaustiva lista. Passou-se o primeiro em 1147, quando da conquista de Lisboa aos Mouros. Entre os cavaleiros teutónicos que vieram ajudar Afonso Henriques, havia um de nome Heinrich (Henrique) que morreu durante o cerco, tendo os seus ossos sido levados e sepultados na igreja de São Vicente (onde ainda se encontram), e uma lápide assinala o lugar e lembra o facto, para que não seja esquecido. Curiosamente, nesse mesmo cerco, tomou igualmente parte um nobre cavaleiro português, de seu nome Martim Moniz, que deve a sua fama a ter ficado entalado na porta do castelo para permitir a entrada dos cristãos. Claro que o seu nome ainda é recordado hoje nos vestígios que restam dessa muralha, mas os seus ossos, esses, não mereceram por parte dos Portugueses nenhuma sepultura, não se encontram em nenhum lugar de culto, nunca houve rasto deles, e há até quem ponha em dúvida que Martim Moniz tenha existido ! Relativamente ao segundo episódio, também ele se refere a uma figura portuguesa, bem conhecida no mundo inteiro por Santo António de Pádua, mas que nós temos muito orgulho em que nasceu eu Lisboa e era português !? Só que praticamente ninguém fora das fronteiras deste rectângulo de terra a que chamamos Portugal sabe que ele era de Lisboa, pois é conhecido por ser de Pádua. Aqueles que já tiveram a oportunidade de ter ido ao Canadá, onde existe uma grande comunidade italiana (e igualmente a nossa portuguesa, claro) certamente que sabem por que podem passar se ousarem dizer aos Italianos ou seus descendentes que o Santo António era português ! E quem já foi a Pádua e visitou a igreja dedicada ao santo, quando a compara com a que existe em Lisboa no sítio onde se supõe tenha existido a casa onde ele nasceu... sem comentários ! Ou melhor, o comentário que desejo fazer é que para compreendermos como isto se pôde passar, basta ler a Crónica da Ordem dos Frades Menores, escrita após a morte do santo, que começa com as seguintes palavras, cito « O muy glorioso padre Samto Antonio de Padua, hum dos escolhidos companheiros (...) », fim de citação, sem mais comentários. Devemos espantar-nos por Portugal - e nós Portugueses - sermos esquecidos, quando não somos até ignorados (o que não é exactamente a mesma coisa) pelos outros povos ? Claro que não, quem não tem amor próprio, certamente não inspira admiração aos outros. Por isso vemos emissões sobre História, Arqueologia, para só falar destes temas, feitas sempre por estrangeiros e falando sobre temas relativamente aos quais Portugal devia ser um país referenciado, e nem sequer somos citados uma única vez. Peço desculpa se o que acabo de relatar não agrada a quem gosta de fechar os olhos à realidade, mas a minha longa experiência do assunto, permite-me falar com conhecimento de causa e devidamente documentada. Gostaria que reflectissem sobre o assunto, especialmente os jovens, que são o futuro do nosso país. Um abraço a todos. Dulce Rodrigues www.dulcerodrigues.info
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