Re: [Archport] A propósito dos banhos islâmicos de Loulé...
> Mas nada disto serve de muito. Os livros - todos os livros que não sejam de
> futebol ou de escândalos - não se vendem e ponto final.
Sem dúvida, mas é um começo. Refiro também as excelentes obras do João
Aguiar "Lapedo: uma Criança no Vale" das Edições Asa e "Enigmas - A
Costa dos Tesouros", da Mónica Bello, lançada pela Temas e Debates.
> Além disso - e já agora - A Gabriela Morais dirige nesta editora uma
> colecção de folhetos dedicados à História portuguesa. Todos os contactos
> efectuados até ao momento com arqueólogos têm dado em quase nada
> (exceptuam-se o Prof. José d'Encarnação, Manuel Calado e Leonor Rocha).
> Parece que nenhum precisa de uma plataforma onde divulgar os seus
> trabalhos...
Obviamente, contactaram com as pessoas erradas.
2008/6/24 Fernanda Frazão <fernandarbfrazao@gmail.com>:
> Caros Senhores
> Pertenço à lista do Archport, sou apenas licenciada em História, mas dirijo
> uma editora.
> Durante o ano passado, lançámos uma obra, chamada A Senhora de Ofiúsa, da
> autoria de Gabriela Morais. A autora é também licenciada em História e
> apaixonada por Arqueologia. Este livro, destinado a adolescentes - mas lido
> apaixonadamente por adultos - trata nada mais nada menos da nossa
> pré-história, sendo uma obra de divulgação baseada em dezenas de obras
> científicas publicadas por arquélogos portugueses e não só. Além disso, a
> trama, que reconstitui e ficcionada (evidentemente) o quotidiano das
> populações, passa-se integralmente em sítios e monumentos portugueses
> (começa em Lapedo e passa aos concheiros, aos Almendres, à gruta do
> Escoural, Águas Frias, etc. Inclusivamente, como se destina a jovens, tem
> uma adenda onde se mencionam e descrevem os objectos, os locais e as épocas
> pré-históricas. A propósito do livro, disse Manuel Calado:
>
> «a arqueologia precisa, para ser útil, que haja quem a descodifique e lhe dê
> poesia […] E neste caso, isso foi feito com muita convicção, uma imaginação
> fabulosa e, o que não é dispiciendo, muito bem escrito. Uma excelente
> plataforma para o estudo da pré-história.»
>
> Mas nada disto serve de muito. Os livros - todos os livros que não sejam de
> futebol ou de escândalos - não se vendem e ponto final.
>
> Além disso - e já agora - A Gabriela Morais dirige nesta editora uma
> colecção de folhetos dedicados à História portuguesa. Todos os contactos
> efectuados até ao momento com arqueólogos têm dado em quase nada
> (exceptuam-se o Prof. José d'Encarnação, Manuel Calado e Leonor Rocha).
> Parece que nenhum precisa de uma plataforma onde divulgar os seus
> trabalhos... Parece-me estranho, tanto mais que as respostas que temos
> obtido de especialistas estrangeiros são bem diferentes.
>
> Será que é preciso dizer mais alguma coisa?!
>
> Fernanda Frazão (editora)
>
> _____________________________
> APENAS LIVROS LDA
> www.apenas-livros.com
> Al. das Linhas de Torres, 97-3º Dto
> 1750-140 Lisboa
> tel./fax: (00351) 217582285
> tm. 968018309
>
>
>
> ----- Original Message -----
> From: "Alexandre Monteiro" <no.arame@gmail.com>
> To: "Joao Araújo Gomes" <jpagomes@gmail.com>
> Cc: <archport@ci.uc.pt>
> Sent: Tuesday, June 24, 2008 3:53 PM
> Subject: Re: [Archport]A propósito dos banhos islâmicos de Loulé...
> Já agora e no seguimento desta discussão, vejam o artigo do Cornelius
> Holtorf:
>
> http://www.newscientist.com/channel/opinion/mg19826566.000-comment-indiana-jones-is-no-bad-thing-for-science.html
>
>
>
>
> 2008/6/24 Joao Araújo Gomes <jpagomes@gmail.com>:
>> Concordo com o colega Alexandre Monteiro.
>>
>> A divulgação para o grande público é uma componente da prática moderna da
>> arqueologia global.
>>
>> Mais tarde ou mais cedo será uma obrigatoriedade - afinal de contas os
>> contribuintes têm o direito de saber a sua própria História, ainda que, em
>> termos muito gerais, não se constate tal consciencialização nacional.
>> Cabe-nos a nós informar.
>>
>> Nesta conformidade, a utilização da Internet - nomeadamente de blogues
>> informativos e sítios referentes a entidades arqueológicas - é uma
>> ferramenta cada vez mais importante. Refira-se o bom desempenho nesta área
>> da revista Al-madan e do centro NIA da ERA arqueologia, por exemplo.
>>
>> J. Araújo Gomes
>>
>> 2008/6/24 Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>:
>>>
>>> Acho que tal acontecerá quando os arqueólogos passarem a valorizar a
>>> componente do retorno social daquilo que fazem ao invés de (e mesmo
>>> assim, nem sempre) só se preocuparem em divulgar as suas descobertas
>>> junto dos seus pares.
>>>
>>> A ninguém do público em geral interessa saber que as tábuas de
>>> resbordo do Angra D são 3 centímetros mais espessas do que as
>>> encontradas no seu paralelo de Cattewater ou que há potes islâmicos do
>>> século XI, com pé baixo e decoração em tons de castanho a apresentar
>>> duas carenas, com uma a antecer o bordo, o que indica uma manufactura
>>> síria... o que lhe interessa é uma boa história, bem contada, com
>>> protagonistas e eventos, assente em factos científicos. Uma coisa é o
>>> discurso científico, outra coisa é o discurso de divulgação - ao
>>> público em geral (onde se incluem os jornalistas e até os políticos
>>> que nos tutelam), interessa o segundo e não o primeiro.
>>>
>>> Quando se fazem escavações entaipadas por tapumes, quando não se
>>> publicam artigos de grande divulgação, quando não se promove junto das
>>> escolas e das comunidades locais colóquios ou visitas de estudo, é
>>> dificil mostrar ao público não especializado que a arqueologia é uma
>>> actividade científica que goza de outras componentes que não a
>>> cinematográfica - afinal, é no cinema e nos romances pseudo-históricos
>>> que essas mesmas populações e comunidades vão beber o seu
>>> conhecimento. É por isso que dizer "arqueologia" em Portugal convoca
>>> quase sempre em quem ouve essa palavra imagens de pirâmides no Egipto,
>>> amaldiçoadas, quiçá com múmias zômbicas, navios afundados com lingotes
>>> de prata e moedas de ouro e cidades perdidas na selva amazónica.
>>>
>>> Mais do que reclamarmos contra o "espírito Indiana Jones" deviamos era
>>> aproveitá-lo como engodo, utilizar esta carga sentimental de sinal
>>> positivo que esta ciência transporta às costas para ganhar novos
>>> públicos, novas audiências. Conquistadas pelo brilho das luzes, não
>>> duvido que fosse fácil esclarecê-las quanto aos aspectos menos sexy e
>>> menos bombásticos que permeiam a vida de um arqueólogo no rame rame do
>>> seu dia a dia (dar cabo das costas a escavar sob um sol ardente
>>> sedimento concrecionado para topar com dois ou três cacos de origem e
>>> tipologia indistinta, acompanhar a abertura de uma fétida vala de
>>> esgoto, por terrenos há já muito remexidos, escavar debaixo de água
>>> exactamente debaixo da saída do esgoto de uma cidade de tamanho
>>> mediano, afastando com as mãos os pensos higiénicos e o confetti
>>> ensopado de papel higiénico e outras coisas do género) coisas afinal
>>> bem menos glamorosas do que andar pelo Cairo a combater nazis e a
>>> descobrir tesouros perdidos mas que deveriam gerar (e quantas vezes
>>> não geram) a mais valia do património cultural português - "uma
>>> realidade da maior relevância para a compreensão, permanência e
>>> construção da identidade nacional e para a democratização da cultura".
>>>
>>>
>>>
>>>
>>>
>>> 2008/6/24 vasco mantas <vgmantas@yahoo.com>:
>>> > Caros Amigos
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > A propósito da notícia sobre a identificação dos banhos do período
>>> > islâmico
>>> > de Loulé não posso deixar de me interrogar sobre a presença constante
>>> > do
>>> > famigerado Indiana Jones nestas histórias... Quando será que os
>>> > jornalistas
>>> > que fazem as notícias compreendem que a Arqueologia é uma actividade
>>> > científica?
>>> >
>>> > Talvez quando os arqueólogos deixarem de colaborar com a visão
>>> > "cinematográfica" da Arqueologia. Garanto-vos que estas coisas têm um
>>> > preço.
>>> > Não estaremos a pagá-lo, e bem alto?
>>> >
>>> > Cordialmente
>>> >
>>> > Vasco Mantas
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>> João Araújo Gomes
>> (Arqueólogo e mestrando
>> em Geografia Física - FLUL)
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