[Archport] Empresas de arqueologia querem reflexão sobre suspeitas de corrupção na antiga JAE
Empresas de arqueologia querem reflexão sobre suspeitas de corrupção
na antiga JAE
Público, 29.09.2008, José António Cerejo
Documento dirigido ao Igespar e ao ministro da Cultura defende
reformulação da lei sobre trabalhos arqueológicos e medidas para
garantir a transparência no sector
A comissão organizadora do primeiro Congresso Português de Arqueologia
Empresarial, que vai decorrer em Novembro em Lisboa, apelou esta
semana à realização de uma "profunda reflexão" sobre o envolvimento de
altos funcionários da Estradas de Portugal (EP) em empresas privadas
que se dedicam à arqueologia. A iniciativa dos promotores do congresso
surgiu na sequência das notícias do PÚBLICO sobre as ligações
existentes entre quadros da EP com responsabilidade na contratação de
serviços de arqueologia e a principal fornecedora dos mesmos, a
empresa Geoarque.
Os factos noticiados no passado dia 6 "são de uma enorme gravidade,
configurando comportamentos totalmente inaceitáveis por parte de
pessoas com grande envolvimento na arqueologia portuguesa", refere a
comissão numa carta dirigida ao presidente do Instituto de Gestão do
Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), com conhecimento
ao ministro da Cultura. O documento sublinha que "a situação em apreço
aprofunda suspeições de actos ilícitos e de corrupção" e defende que,
no caso de elas se confirmarem, "será abalada a credibilidade que a
arqueologia portuguesa construiu a partir do caso do Côa".
Subscrito pelo arqueólogo Miguel Lago, em nome dos organizadores do
congresso, o apelo à reflexão sobre este caso dirige-se não só ao
Igespar, enquanto tutela do sector, mas a toda a "comunidade
arqueológica", incluindo a Associação Profissional de Arqueólogos, as
universidades e as empresas. Entre os tópicos propostos para discussão
avulta a necessidade de reformular a legislação que regula os
trabalhos arqueológicos, bem como a urgência de definir uma "política
clara" em matéria de tutela do património arqueológico. A situação
actual, salientam, "favorece a emergência de actuações pouco
transparentes por parte de determinados agentes envolvidos nesta
área", quer em termos de ética profissional ou comercial, quer em
termos técnico--científicos.
"A transparência na divulgação de interesses individuais envolvendo
pessoas actuando em entidades públicas ou privadas é fundamental à
necessária eliminação de suspeitas de corrupção, compadrio ou tráfico
de influências que assolam o nosso meio profissional", defendem os
autores do documento. Sem a reflexão proposta, garantem, "persistirão
práticas menos transparentes e questionáveis no âmbito da salvaguarda,
valorização e conhecimento do nosso património". O documento considera
ainda que "é vital o cabal e definitivo esclarecimento" das notícias
divulgadas.