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[Archport] Empresas de arqueologia são as últimas vítimas da crise

To :   archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Empresas de arqueologia são as últimas vítimas da crise
From :   Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
Date :   Sat, 25 Aug 2012 00:38:49 +0100

Mais de metade da atividade das empresas desta área é desenvolvida no
acompanhamento de obras

Empresas de arqueologia são as últimas vítimas da crise

Diário de Notícias, 24/08/2012 | 16:40 | Dinheiro Vivo

Filipe Ramos conta o número de faturas emitidas há mais de seis meses
e cujos pagamentos ainda não chegaram à Arqueoliber, a empresa de
arqueologia que dirige. "Posso dar 6, 7, 8 casos em que as faturas já
venceram há um ano, pelo menos 2600 euros por cada trabalho." Não são
pagamentos referentes a escavações arqueológicas - porque essas
sãoraras no país -, mas sim de acompanhamentos de obras, inspeções
obrigatórias segundo a lei comunitária e que ocupam mais de metade dos
trabalhos dos arqueólogos.Ocupavam, porque a construção está
praticamente parada.

Segundo o INE, o índice de novas encomendas à construção caiu 51,5% no
segundo trimestre do ano face ao mesmo período do ano passado. Só o
segmento de novos edifícios caiu 36,1%. Pela primeira vez na história
há mais homens desempregados e a construção também é a culpada. Para a
Arqueoliber, a arqueologia preventiva representa(va) 90% do volume de
negócios. Como é que aguentam? "Tenta-se sobreviver", afirma Filipe
Ramos.

A história é antiga, lembra José Morais Arnaut, presidente da
Associação Portuguesa de Arqueologia: "Num mercado capitalista, ora se
está em crescimento ora em recessão." Como recorda, foi a construção
que, nos anos 80, permitiu ao sector crescer, especialmente por causa
de obras do Estado, que sempre foram as melhores. Atualmente, as
barragens, pontes e regadios - como o de Alqueva - chegam a ocupar
mais de 200 profissionais de uma vez. As melhores obras ativas para os
arqueólogos neste momento são as barragens do Alqueva e do Sabor, com
centenas de profissionais da arqueologia. Serviços bem pagos,  às
vezes aos 80 euros/dia.
"Nos anos 80, as equipas não tinham mais de duas pessoas, mas com a
descoberta das pinturas de Foz Côa começou a fazer-se o levantamento
sistemático", diz. Nessa altura havia pleno emprego na arqueologia.
Mas José Morais Arnaut lamenta que esses dias tenham dado lugar à
"irresponsabilidade" de se abrirem  tantas licenciaturas pelo país -
saem atualmente 100 a 200 licenciados arqueólogos das faculdades
portuguesas, um número distante dos 15 mil engenheiros, mas demasiado
elevado para a saída que a profissão tem.

Inês Ribeiro, 27, licenciou-se arqueóloga e acompanhou obras, apesar
de preferir as escavações. Fê-lo durante dois anos, mas acabou por
criar a Time Travellers, uma empresa turística que partilha com outra
arqueóloga, Raquel Policarpo. "Foi uma forma de evitar a falta de
trabalho", porque neste momento, revela, nem a construção salva o
sector. "Ganha-se ao dia, a recibos verdes, e já nem dão mais-valias
como a garantia de alojamento ou o pagamento do combustível." As
empresas estão sem dinheiro para terminar projetos e acabam por fechar
as portas, levando os arqueólogos atrás. "Ainda estou à espera que me
paguem por um trabalho que fiz há mais de um ano.

O valor é mínimo porque era uma obra pequena, menos de 500 euros, mas
pelos vistos não conseguem, e certamente que têm outras prioridades de
maior valor." Entre amigos arqueólogos, a frase é comum: "Pagamos para
trabalhar." O problema, revela, é que antes pagavam e trabalhavam, mas
 agora, com a construção parada, há muitos a deixarem a profissão.
"Vivemos muito da construção, mas as empresas estão paradas e sem
dinheiro", sublinha.

A Arqueoliber está neste momento com alguns projetos em mão, mas "nada
certo". Filipe Ramos lembra a Tecnovia, empresa de construção de Porto
Salvo que colocou esta semana 340 trabalhadores em regime de lay-off.
"Se empresas como a Tecnovia entram em lay-off, quando faturavam 300
milhões, o que acontecerá às outras?"
O presidente da Associação portuguesa de arqueólogos não tem dúvidas:
"Agora é preciso ser-se muito bom para sobreviver." Infelizmente para
o sector, diz, "a arqueologia preventiva sempre foi vista como um peso
para as empresas de construção" e "quanto mais barato melhor".

Filipe Ramos diz que são "os últimos da cadeia da construção", ou como
quem diz, os esquecidos do sector. "Emigrar começa a ser a solução,
mas não como empresa, a título individual." A procura até já começou.


http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO056807.html?page=0

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