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Re: [Archport] Amanhã, concentração pela paz na Palestina

To :   "Archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] Amanhã, concentração pela paz na Palestina
From :   "Rui Gomes Coelho" <ruigomescoelho@gmail.com>
Date :   Sat, 10 Jan 2009 21:59:31 -0000

Caro Ricardo Santos,

 

O que está em causa aqui é que o património cultural está a ser instrumentalizado e, em última instância, a ser destruído, para fazer uma guerra. Devemos interrogar-nos, e bem, sobre os fundamentos deste e de outros conflitos semelhantes, desde logo porque estão em causa vidas humanas. Mas também, uma vez que dominamos uma área científica particular, questionar aquilo que lhe diz mais directamente respeito. É verdade não dispomos de muitos meios para nos opormos a um conflito desta natureza. Em todo o caso, dispomos das ferramentas necessárias para tentarmos compreender os contextos sociais em que esta guerra é produzida e o património cultural instrumentalizado. E podemos, sobretudo, denunciar parte da complexa teia que envolve gente em armas e apelar à paz. Pode ser à partida simbólico, mas não nos esqueçamos que no preciso momento em que estamos diante do computador a ler e-mails há pessoas a morrer em Gaza. E há muitas mais que serão afectadas (individual e colectivamente) por tudo o que lhe está associado.

 

Saudações

 


De: Ricardo Santos [mailto:ricardo.jd.santos@gmail.com]
Enviada: sexta-feira, 9 de Janeiro de 2009 13:24
Para: Rui Gomes Coelho; Archport
Assunto: Re: [Archport] Amanhã, concentração pela paz na Palestina

 

Eu sou novo e não conheço os pormenores da situação.
Ando só a ler aqui e ali para me informar melhor.

Ricardo Santos

Sábado nº245 de 8 de Janeiro

Coluna Juízo Final, Alberto Gonçalves, sociólogo

Ainda Gaza

Na Europa, os pacifistas do costume saírem aos gritos de "Somos todos palestinianos". É curioso que nunca calhe serem todos israelitas. E é curioso notar que tipo de palestinianos são. Se os pacifistas parciais se referem aos que votaram no Hamas, a identificação não é razoável, por um lado, nem abonatória, por outro.

 

Não é razoável porque a autêntica solidariedade para com os palestinianos implicaria não a condenação de Israel mas do Hamas, que coloca a população de Gaza na linha de fogo de um confronto que Israel não provocou. A identificação não é abonatória porque a maioria da população escolheu o Hamas para comandar os respectivos destinos.

 

Presumo que os habitantes de Gaza conheçam a essência da seita q aue deram dois terços do parlamento local, uma seita forjada em volta do ódio a um Estado de direito e basicamente empenhada na sua destruição. Goste-se ou não, o voto dos indígenas é um aval a tais sentimentos e propósitos. Há dias, o colunista canadiano Mark Steyn recordava que ninguém elege o Hamas para obter um bom sistema de ensino. Nem, digo eu, para alcançar serviços de saúde decentes ou um tecido industrial escapatório. Elege-se o Hamas por se acreditar que o Hamas é a força mais determinada a eliminar Israel e por se querer o assassínio enquanto modelo de organização social.

 

Pois bem, agora os palestinianos de Gaza têm o que queriam. Pelo meio, ganharam também uma lei progressista, recentemente aprovada, que amputa os braços aos ladrôes e aplica a crucificação aos culpados de "traição". Iso, porém, é um mero bónus. Principalmente, os palestinianos de Gaza conseguiram a guerra, e acho que não se espantarão ao reparar que alguns morrem nela.

Com certo descaramento, inúmeros ocidentais fingem espantar-se, e assim desfilam nas ruas a chorar inocentes, com e sem aspas, e a comparar Israel à Alemanha nazi. Só erram por um triz. A julgar pelos alvos e objectivos comuns, a comparação correct seria entre as massas apoiantes do Hamas e os apoiantes de Hitler, embora, apesar da propaganda, não seja plausível que Gaza termine como, por exemplo, terminou Dresden, um imenso sepulcro de cadáveres cuja inocência ficou por provar e cuja identidade a Europa de 1945 não reinvindicou.

 

2009/1/7 Rui Gomes Coelho <ruigomescoelho@gmail.com>

Caros/as archportianos/as,

 

Amanhã terá lugar junto à embaixada de Israel em Lisboa, uma concentração pela paz e de apoio ao povo palestino (pelas 18h, na rua António Enes, metro de Picoas ou Saldanha).

 

Desde o mês passado que todos temos recebido diariamente, através da comunicação social ou da internet, as informações mais diversas sobre a mais recente agressão israelita à faixa de Gaza. Trata-se, evidentemente, de um conflito que é apenas a expressão mais recente de uma longa sucessão de eventos naquele contexto, e que têm infelizmente sido inscritos a ferro e fogo na nossa história mais recente. No entanto, é bom dizer que se trata de uma situação que toma contornos particularmente graves. Desde logo porque é o desfecho de um processo iniciado pela retirada das tropas do exército do estado israelita e dos colonatos daquele território (2005), sucedido por um longo bloqueio económico que dura até hoje, mesmo nas actuais circunstâncias humanitárias. Isto é ainda mais grave se tivermos em conta que é um território relativamente pequeno (com uma área inferior à do Algarve), e dos mais densamente povoados do mundo. Algo que se tem dramaticamente revelado pelos bombardeamentos sucessivos por parte do exército do estado de Israel, que têm feito numerosas baixas entre a população civil.

 

Só estes factos serviriam para justificar a nossa presença em acções de protesto.

 

O apelo que lanço à comunidade arqueológica é, para lá disso, renovado por outras razões, muito embora tomem parte do mesmo contexto. Com efeito, o estado de Israel tem tomado uma outra ofensiva contra o povo palestino através de atentados sucessivos aos elementos constituintes da sua identidade histórica. Falamos em concreto de uma série de destruições de mesquitas, mausoléus, cemitérios e pequenos núcleos urbanos históricos, que têm ocorrido desde 1948, alguns dos quais para darem lugar à construção de colonatos ou até, imagine-se, equipamentos desportivos. Uma das situações mais recentes, largamente denunciada através do comité palestino no ICOMOS, foi a destruição em Hebron e Nablus (2002) de construções mamelucas e do período otomano (como seja um hammam do séc. XVIII), além de uma série de edifícios tradicionais. Apesar das normas que estabelecem a protecção dos imóveis nos centros históricos, nomeadamente através do impedimento da circulação veículos, as destruições ocorreram totalmente ao seu arrepio, da forma mais brutal: com meios militares. A própria igreja da Natividade, em Belém, já terá sido alvo de snipers.

 

Será bom lembrar que apesar de a Convenção de Haia (1954) sobre a protecção dos bens culturais em caso de conflito armado ter sido subscrita pelo estado de Israel, os seus preceitos continuam a ser grosseiramente ignorados. A própria situação da Palestina, e daqueles que são considerados os beligerantes (enquanto organizações terroristas, e não estados ou combatentes formais), deixa a sua aplicação num pântano de ambiguidades. Mesmo com os apelos sucessivos da comunidade internacional, das instituições internacionais que se debruçam sobre o património cultural, ou até de iniciativas sugestivas (e naturalmente discutíveis) de diversas entidades, como foi ainda no ano passado da proposta conjunta da Universidade da Califórnia – Los Angeles, e da Universidade da Baixa Califórnia, sobre um acordo entre ambas as partes sobre a gestão do património arqueológico.

 

Sabemos, pela dura experiência do séc. XX, como a destruição do património cultural de povos e comunidades inteiras, ou a sua transformação por meios violentos, foi tida como instrumento entre grupos em confronto. Não raras vezes com a participação e colaboração de arqueólogos, antropólogos e outros cientistas sociais. Em muitas ocasiões, mais do que a destruição aberta, é a negligência sistemática que está em causa. Os casos também eles recentes, da intervenção do exército dos EUA no Iraque (2003), com o saque do Museu de Bagdade e a destruição de diversos sítios arqueológicos e a sua exposição ao saque, assim como o da segunda guerra do Líbano (2006), estão aí para nos lembrar de tudo isto. No caso da faixa de Gaza não sabemos ainda inteiramente o que se passa, não só porque as comunicações são escassas como as preocupações essenciais das suas populações neste momento são a sobrevivência, pura e dura. Por tudo isso urge o cessar-fogo imediato.

 

No fim de contas, trata-se da prossecução de um conflito armado por outros meios, e cabe a nós arqueólogos, pelo que nos toca enquanto cidadãos e pessoas de ciência, denunciar estas situações e apelar à sua resolução. Apelar à paz, no fim de contas, porque a vida de um ser humano e o seu bem estar estão acima de tudo.

 

A todos/as colegas que puderem: apareçam amanhã.

 

Saudações


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