Caro Ricardo Santos, O que está em causa aqui é que o
património cultural está a ser instrumentalizado e, em última instância, a ser
destruído, para fazer uma guerra. Devemos interrogar-nos, e bem, sobre os
fundamentos deste e de outros conflitos semelhantes, desde logo porque estão em
causa vidas humanas. Mas também, uma vez que dominamos uma área científica
particular, questionar aquilo que lhe diz mais directamente respeito. É verdade
não dispomos de muitos meios para nos opormos a um conflito desta natureza. Em
todo o caso, dispomos das ferramentas necessárias para tentarmos compreender os
contextos sociais em que esta guerra é produzida e o património cultural
instrumentalizado. E podemos, sobretudo, denunciar parte da complexa teia que
envolve gente em armas e apelar à paz. Pode ser à partida simbólico, mas não
nos esqueçamos que no preciso momento em que estamos diante do computador a ler
e-mails há pessoas a morrer em Gaza. E há muitas mais que serão afectadas
(individual e colectivamente) por tudo o que lhe está associado. Saudações De: Ricardo Santos
[mailto:ricardo.jd.santos@gmail.com] Eu sou novo e não conheço os pormenores da situação. Na Europa, os pacifistas do costume saírem aos gritos de "Somos
todos palestinianos". É curioso que nunca calhe serem todos israelitas. E
é curioso notar que tipo de palestinianos são. Se os pacifistas parciais se
referem aos que votaram no Hamas, a identificação não é razoável, por um lado,
nem abonatória, por outro. Não é razoável porque a autêntica solidariedade para com os
palestinianos implicaria não a condenação de Israel mas do Hamas, que coloca a
população de Gaza na linha de fogo de um confronto que Israel não provocou. A
identificação não é abonatória porque a maioria da população escolheu o Hamas
para comandar os respectivos destinos. Presumo que os habitantes de Gaza conheçam a essência da seita q aue
deram dois terços do parlamento local, uma seita forjada em volta do ódio a um
Estado de direito e basicamente empenhada na sua destruição. Goste-se ou não, o
voto dos indígenas é um aval a tais sentimentos e propósitos. Há dias, o
colunista canadiano Mark Steyn recordava que ninguém elege o Hamas para obter
um bom sistema de ensino. Nem, digo eu, para alcançar serviços de saúde
decentes ou um tecido industrial escapatório. Elege-se o Hamas por se acreditar
que o Hamas é a força mais determinada a eliminar Israel e por se querer o
assassínio enquanto modelo de organização social. Pois bem, agora os palestinianos de Gaza têm o que queriam. Pelo meio,
ganharam também uma lei progressista, recentemente aprovada, que amputa os
braços aos ladrôes e aplica a crucificação aos culpados de "traição".
Iso, porém, é um mero bónus. Principalmente, os palestinianos de Gaza
conseguiram a guerra, e acho que não se espantarão ao reparar que alguns morrem
nela. 2009/1/7 Rui Gomes Coelho <ruigomescoelho@gmail.com> Caros/as
archportianos/as, Amanhã
terá lugar junto à embaixada de Israel em Lisboa, uma concentração pela paz e
de apoio ao povo palestino (pelas 18h, na rua António Enes, metro de Picoas ou
Saldanha). Desde
o mês passado que todos temos recebido diariamente, através da comunicação
social ou da internet, as informações mais diversas sobre a mais recente
agressão israelita à faixa de Gaza. Trata-se, evidentemente, de um conflito que
é apenas a expressão mais recente de uma longa sucessão de eventos naquele contexto,
e que têm infelizmente sido inscritos a ferro e fogo na nossa história mais
recente. No entanto, é bom dizer que se trata de uma situação que toma
contornos particularmente graves. Desde logo porque é o desfecho de um processo
iniciado pela retirada das tropas do exército do estado israelita e dos
colonatos daquele território (2005), sucedido por um longo bloqueio económico
que dura até hoje, mesmo nas actuais circunstâncias humanitárias. Isto é ainda
mais grave se tivermos em conta que é um território relativamente pequeno (com
uma área inferior à do Algarve), e dos mais densamente povoados do mundo. Algo
que se tem dramaticamente revelado pelos bombardeamentos sucessivos por parte
do exército do estado de Israel, que têm feito numerosas baixas entre a
população civil. Só
estes factos serviriam para justificar a nossa presença em acções de protesto. O
apelo que lanço à comunidade arqueológica é, para lá disso, renovado por outras
razões, muito embora tomem parte do mesmo contexto. Com efeito, o estado de
Israel tem tomado uma outra ofensiva contra o povo palestino através de
atentados sucessivos aos elementos constituintes da sua identidade histórica.
Falamos em concreto de uma série de destruições de mesquitas, mausoléus,
cemitérios e pequenos núcleos urbanos históricos, que têm ocorrido desde 1948,
alguns dos quais para darem lugar à construção de colonatos ou até, imagine-se,
equipamentos desportivos. Uma das situações mais recentes, largamente
denunciada através do comité palestino no ICOMOS, foi a destruição em Hebron e
Nablus (2002) de construções mamelucas e do período otomano (como seja um hammam do séc. XVIII), além de uma série
de edifícios tradicionais. Apesar das normas que estabelecem a protecção dos
imóveis nos centros históricos, nomeadamente através do impedimento da
circulação veículos, as destruições ocorreram totalmente ao seu arrepio, da
forma mais brutal: com meios militares. A própria igreja da Natividade, em
Belém, já terá sido alvo de snipers. Será
bom lembrar que apesar de a Convenção de Haia (1954) sobre a protecção dos bens
culturais em caso de conflito armado ter sido subscrita pelo estado de Israel,
os seus preceitos continuam a ser grosseiramente ignorados. A própria situação
da Palestina, e daqueles que são considerados os beligerantes (enquanto
organizações terroristas, e não estados ou combatentes formais), deixa a sua
aplicação num pântano de ambiguidades. Mesmo com os apelos sucessivos da
comunidade internacional, das instituições internacionais que se debruçam sobre
o património cultural, ou até de iniciativas sugestivas (e naturalmente
discutíveis) de diversas entidades, como foi ainda no ano passado da proposta
conjunta da Universidade da Califórnia – Los Angeles, e da Universidade
da Baixa Califórnia, sobre um acordo entre ambas as partes sobre a gestão do
património arqueológico. Sabemos,
pela dura experiência do séc. XX, como a destruição do património cultural de
povos e comunidades inteiras, ou a sua transformação por meios violentos, foi
tida como instrumento entre grupos em confronto. Não raras vezes com a
participação e colaboração de arqueólogos, antropólogos e outros cientistas
sociais. Em muitas ocasiões, mais do que a destruição aberta, é a negligência
sistemática que está em causa. Os casos também eles recentes, da intervenção do
exército dos EUA no Iraque (2003), com o saque do Museu de Bagdade e a
destruição de diversos sítios arqueológicos e a sua exposição ao saque, assim
como o da segunda guerra do Líbano (2006), estão aí para nos lembrar de tudo
isto. No caso da faixa de Gaza não sabemos ainda inteiramente o que se passa,
não só porque as comunicações são escassas como as preocupações essenciais das
suas populações neste momento são a sobrevivência, pura e dura. Por tudo isso
urge o cessar-fogo imediato. No
fim de contas, trata-se da prossecução de um conflito armado por outros meios,
e cabe a nós arqueólogos, pelo que nos toca enquanto cidadãos e pessoas de
ciência, denunciar estas situações e apelar à sua resolução. Apelar à paz, no
fim de contas, porque a vida de um ser humano e o seu bem estar estão acima de
tudo. A
todos/as colegas que puderem: apareçam amanhã. Saudações
No
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