Acerca ainda do episódio sísmico de L’Aquila e à ponderação que nos suscita em vários domínios, a intervenção de Carlos Delgado acaba por colocar a questão muito para além do mero alcance das perspectivas de análise centradas sobre tópicos circunstanciais. Bem vindo.
Ao focar a questão em torno de questões estruturais de ordenamento territorial, ainda que circunscritas para já ao ordenamento do espaço ou território urbano, permite-nos propor a comentário outras questões mais profundas. E elas têm também que ver genericamente com a preservação e valorização do património cultural construído genericamente, mas arqueológico em particular.
Vou lançar o repto numa abordagem sintética, esperando que progressivamente outras intervenções orientem o desenvolvimento do tópico.
Dos episódios que marcaram todo o ano de 2008, anunciando a tragédia que se tornou mais visível nos inícios de 2009, vão ter que decorrer profundas alterações de paradigma, no que respeita à avaliação da eficácia da economia de mercado e da economia global para administrar uma solução de reequilíbrio e de bem estar no futuro próximo. O pior que poderia acontecer seria que a solução da crise resultasse meramente no reordenamento do papel relativo dos operadores e da lógica que estão na sua origem.
A raiz das questões que Carlos Delgado coloca e tal como as coloca parecem decorrer de um determinado tipo de relação mercantil com o território e com o seu valor, no quadro estrito da administração do espaço urbano, mas endémicas. Seja, Elas próprias se geram e radiculam no espaço urbano.
Ora, aqui reside de facto a raiz da questão. Por que razão, durante os últimos anos, a relação mercantil com o território urbano pôde partir do pressuposto de que a sua capacidade de especulação não tinha limites?
A razão é do meu ponto de vista clara. Em óbvia subversão do que se propunha há cerca de vinte anos, o espaço urbano recuperou durante a última década o valor apelativo remanescente das décadas de sessenta e setenta do Século XX. Pela simples razão de que o espaço rural perdeu toda a sua potência apelativa e a sua desertificação é hoje em dia uma realidade confrangedora. Na raiz desta perda estão episódios concretos como a assinatura da PAC, mas também a falência radical dos programas e projectos de desenvolvimento do espaço rural em sede de aplicação. E estamos a falar da aplicação de muitos milhões de contos de fundos comunitários, que hoje não conseguimos identificar em realizações objectivas, bem pelo contrário, a aplicação de tais programas parece ter resultado na progressiva desertificação do território rural.
Eu estou convicto que a progressiva relação mercantil especulativa com o território urbano se coloca a jusante da precariedade e da miséria do território rural.
Para já, deixo o tópico colocado nesta enunciação sintética. Apenas faço acrescer uma chamada de atenção para outros tópicos que tenho desenvolvido. No que respeita à ruína e abandono a que hoje está exposto o património cultural em geral e arqueológico em particular, a desertificação do território rural é talvez o factor mais agravante.
Mensagem anterior por data: Re: [Archport] Volume 14 (2005) da revista Hispania Epigraphica | Próxima mensagem por data: [Archport] Igespar sai em defesa de achados no Terreiro do Paço |
Mensagem anterior por assunto: [Archport] Ordem vampiros! | Próxima mensagem por assunto: [Archport] Ordens, Sindicatos, etc... Primeira Parte. |