Solicitação aos epigrafistas,
arqueólogos e estudiosos do mundo funerário romano
No
decurso de um estudo que estou a realizar deparei com limitações de
informação inultrapassáveis, pelo que venho pedir a Vossa colaboração,
após consultar o Professor José d'Encarnação.
É um assunto
muito específico e difícil de expor em poucas palavras, pelo que peço
desculpa pela extensão do texto.
A estação
arqueológica romana da "Quinta de Marim" (Olhão, Algarve) é sobejamente
conhecida, pelo menos de nome, sendo referida em todas as compilações e
obras generalistas que abrangem o território actualmente português e em
virtualmente todas os estudos sobre villae tardias da
Hispania.
Os três
aspectos mais marcantes da sua notoriedade são:
1.
Uma colecção de 18 (dezoito) lápides epigráficas
funerárias, consideradas de grande qualidade escultórica e decorativa, em
que a grande maioria das inscrições contrasta grosseiramente com essa
sofisticação formal, considerando-se terem sido executadas por lapicidas
analfabetos. As 18 inscrições identificam 24 nomes: 21 falecidos, 2
dedicantes e 1 pai (13 homens e 11 mulheres), 20 [83%] com um só nome (11
gregos e 9 latinos), 3 [13%] com 2 nomes (2 mulheres e o pai de uma delas)
e 1 [4%] com 3 nomes.
2.
Um edifício muito semelhante aos de Milreu e São
Cucufate, datados de meados do séc. IV e geralmente interpretados como
templos privados das respectivas villae. Este edifício, juntamente
com vestígios de outro que lhe é vizinho, permitem estabelecer com
segurança a existência de uma villa em Marim já desde o séc. II,
com uma ampliação ou remodelação durante o séc. IV.
3.
Um elemento pouco conhecido mas não menos
interessante é uma necrópole edificada como um recinto funerário, com
pátio e, pelo menos, duas casas-túmulo. Teria uma capacidade de c. 100
fossae sepulcrais, uma grande parte reutilizada no séc. V, de onde
se retiraram as três placas epigráficas paleocristãs de Marim. O seu
período áureo terá sido desde finais do séc. II até meados do III. Daqui
provieram confirmadamente 6 das lápides, certamente mais 8 reutilizadas
num raio de 200m e, talvez, mais duas, reutilizadas a c. 480m mas do mesmo
tipo formal e onomástico, o que permite estimar em c. de 90% do total o nº
de lápides originárias desta necrópole.
A necrópole encontra-se a c. de 300m
dos edifícios da parte urbana da villa, 200m mais longe que uma
pequena necrópole intermédia, a qual, por proximidade e tipo, se tem
associado à familia rustica da villa, com uma fundação
desconhecida mas em uso numa época seguramente posterior ao apogeu da
necrópole principal.
As minhas
perguntas referem-se apenas à colecção epigráfica e destinam-se a
determinar, através de evidências comparadas, em que medida é que Marim
pode ser considerado um caso único ou pouco vulgar no panorama do
povoamento romano do Ocidente e quais os caracteres dos sítios com um
registo epigráfico semelhante:
1.
Que colecções existem com uma ordem de grandeza igual
ou maior que a de Marim, provenientes de sítios rurais na
Antiguidade (excluindo-se povoações urbanas e para-urbanas tais como
fixações militares e outras aglomerações especializadas de dimensões
razoáveis)?
2.
Que colecções existem, que associem uma grande
qualidade decorativa a um grupo humano do fundo da escala social?
3.
Que exemplos se conhecem de agrupamentos epigráficos
com estas características em fixações que sejam fundamentadamente
consideradas villae?
Por outras palavras, que exemplos se
conhecem de villae em que escravos analfabetos tenham tido fundos,
autonomia, e organização social para ? em massa ? adquirirem lápides de
grande qualidade e fazerem-se enterrar em necrópoles especializadas e
arquitectonicamente elaboradas?
4.
Há, pelo menos, exemplos comprovados de uma ou duas
lápides deste tipo e destas gentes em villae bem caracterizadas
como tal?
Caso desejem
aceder a informações complementares sobre Marim, podem usar um destes
links:
Sistematização da colecção epigráfica e bibliografia
específica.
Versão corrente de um resumo do estudo, bibliografia completa
e anexos arqueológicos (inclui a parte do link
anterior)
Página geral. Inclui links para algumas figuras: cartografia
e topografia arqueológica/arquitectónica
Agradeço
antecipadamente a Vossa atenção.
Luís Fraga da Silva
Campo Arqueológico de
Tavira