Mas a cultura sempre se mercantilizou... por vezes, das maneiras mais indirectas que imaginar se possa. Veja-se, por exemplo, o meu caso, quando ainda anteontem fui às compras ao Pingo Doce. Queria azeite. Azeite bom, para temperar e não para cozinhar.
Havia uma míriade de opções: DOP original da cooperativa de Moura, Gallo Azeite Novo, Herdade das Santas Prestige, etc. E variavam no quê? Para quem não é grande conhecedor de azeites e não conhece as castas das azeitonas, em quatro factores apenas: no preço, na embalagem, no índice de acidez e no valor dos peróxidos (já agora, en passant, este é o parâmetro de avaliação mais importante: quanto menor, melhor).
E qual escolhi eu? O da Herdade do Esporão, apesar de não ser o mais barato dos melhores azeites ou de ser o que tinha melhores parâmetros. E porquê? Porque me lembrei que a Herdade do Esporão apoia a arqueologia, a saber, o caso dos Perdigões:
Apoiei, assim, indirectamente, uma empresa, comprando-lhe um seu produto, influenciado pelo apoio que ela dá ao património. Outro caso em que a arqueologia e o branding andam de mãos dadas é o que se passa com o BCP e o núcleo da Rua dos Correeiros.
Ou seja, não me choca nada que a cultura se venda. Choca-me muito mais quando o património se perde ou se estraga para que outras vendas e compras imobiliárias se façam. Ou que as pessoas não vão aos museus, pagando bilhete e assim contribuindo para que estes angariem verbas e se façam notar, junto da tutela, pelo retorno que geram junto da população que servem.
(Noutra vertente, choca-me mais o andaime da TMN que passa por "árvore de natal" na Praça do Comércio)