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Re: [Archport] ENC: RES: Um aviso que me parece importante

To :   Almadan <director.almadan@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] ENC: RES: Um aviso que me parece importante
From :   Manuel de Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Date :   Sat, 22 Feb 2014 20:13:51 +0000

Um aviso que me pareceu importante. Mas já não parece.

 

Eu confesso que senti o impulso de responder ao aviso de António Valera por não ter entendido as últimas observações que dele constam. Sinto pois o dever, após ler a última intervenção de António Valera, de aceitar que também me precipitei, arrastado pela sua precipitação.

 

‘’Entretanto, atenção aos currículos... 
É que se cá nós conhecemos as revistas e reconhecemos a marosca, para um júri internacional a coisa até pode passar. ‘’

 

Na verdade, eu, pessoalmente, não necessito de publicar para efeitos de constituir currículo. Mas foi o que me chamou a atenção, a conclusão da mensagem de A Valera parecia ter o propósito de expor ou denunciar más práticas na constituição de currículos.

 

Quanto a currículos, já vi de tudo, nomeadamente quem alegasse, segundo entendi, que o ‘’bom nome na praça’’ seria uma plataforma de validação de um currículo com validade equivalente ao cômputo ou avaliação qualitativa do elenco bibliográfico do ‘’concorrente’’.

 

Também não entendo para que seriam necessárias revistas científicas com arbitragem científica em Portugal, uma vez que, como bem sugere António Valera, ‘’cá nós conhecemos as revistas e reconhecemos a marosca’’.

Não posso pois deixar de submeter a esta lista uma questão liminar.

Uma vez publicado numa revista com arbitragem científica, um título constante num currículo dispensa o avaliador curricular de fazer o seu próprio juízo sobre a sua validade, circunstancial ou transversal?

 

Este tema pode de facto envolver questões muito complexas, que respeitam a especificidades peculiares e pouco assumidas da área disciplinar em que está a ser debatido.

 

Para mim, que já há vários anos mergulhei nas questões epistemológicas, colocaria ainda uma questão:

Para quando assumir que o debate que neste estado de coisas se impõe é o de distinguir a Arqueologia com disciplina, área de investigação, de pensamento e de conhecimento, da Arqueologia como actividade profissional?

O que é a actividade profissional em Arqueologia?

Tal reflexão levar-nos-ia ainda à formulação de duas áreas distintas de arbitragem. Arbitragem de competências e arbitragem científica.

 

Penso que seria a primeira aquela a que se referia António Valera como avaliador curricular.

 

Saudações.

 

Manuel.



No dia 22 de Fevereiro de 2014 às 19:29, Almadan <director.almadan@gmail.com> escreveu:

Caro António Valera:

 

Compreendi perfeitamente que a tua intenção não seria culpabilizar uma revista cujo processo de produção conheces bem. Mas pareceu-me que a mensagem não seria totalmente clara para todos os leitores. Daí o esclarecimento, para evitar qualquer ambiguidade.

 

Dito isto, volto à questão central que justificou a recente troca de mensagens nesta lista para clarificar que compreendo a utilidade da arbitragem prévia (até já reflectimos sobre a eventualidade de vir a aplicar esse mecanismo à Al-Madan Online), mas acho discutível a sua exclusividade como método de aferição qualitativa.

Para além dos riscos de distorção e controlo que já foram expressos, volto a frisar a questão da pequena massa crítica da comunidade arqueológica portuguesa. Resolverá o problema ter mais publicações com arbitragem prévia se os avaliadores forem quase sempre os mesmos? Não será mais correcto batalhar por um sistema de credenciação e avaliação que não dependa exclusivamente disso? Que inclua também descritores de avaliação mais “democráticos” e abertos ao verdadeiro escrutínio científico?

 

    Jorge Raposo

 

 

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De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de José d'Encarnação
Enviada: sábado, 22 de Fevereiro de 2014 18:21
Para: archport
Assunto: [Archport] ENC: RES: Um aviso que me parece importante

 

De: António Carlos de Valera [mailto:acvalera25@gmail.com]
Enviada em: sábado, 22 de Fevereiro de 2014 16:05
Assunto: Re: [Archport] RES: Um aviso que me parece importante

"A passagem do AP a revista com arbitragem científica é uma boa notícia. Mas penso que não vai chegar. Será necessário que mais uma ou outra caminhe nesse sentido, ainda que não seja fácil, como se sabe. E digo isto por duas razões.

A primeira tem a ver com a procura. A actual necessidade de “pontuar” fez com que a procura deste tipo de revistas tenha aumentado bruscamente, ao ponto de as mesmas já não terem capacidade de resposta em tempo útil. Exemplo meu: um artigo proposto aos TP feita em Maio de 2013 só teria publicação, se aceite, no segundo semestre de 2015. Até lá a revista já estava fechada. Ora dois anos de espera tornariam o texto desactualizado (pois abordava um assunto com desenvolvimentos em curso). O resultado foi procurar outra revista e encurtar a publicação num ano e meio. Mas para isso é necessário ter mais oferta onde publicar com arbitragem.

A segunda tem a ver com as críticas que costumam ser feitas aos abusos deste sistema, os quais denunciei no livro Holocénico, O Blog há já alguns anos. Estas críticas podem ser sintetizadas no controlo que o sistema permite a alguns relativamente a outros. Retirar a chancela de qualidade a uns artigos que eventualmente a mereçam (com os actuais meios de comunicação já não é possível impedir que as ideias circulem e nisso as restantes revistas desempenham um papel central) e dá-la a outros que talvez a mereçam menos. Ou seja, a manipulação do sistema em benefício de certos poderes, com as consequências conhecidas em termos de acessos a financiamentos, carreiras e lugares. Ora a existência de um maior número de revistas com arbitragem combate este tipo de controlo, favorecendo um mais correcto funcionamento do sistema.

É que o sistema existe para discriminar qualidade, para que seja o mérito o critério de acesso a financiamentos e a tudo o resto. O problema não está tanto na ferramenta (eventualmente poderia ser melhorada), mas mais no uso que dela se faz. A polícia existe para proteger o cidadão, mas pode ser utilizada para o oprimir.

No final, é o velho problema, muito humano, de luta pelo poder e pelo controlo de posições de privilégio e que faz, quase que invariavelmente, que os sistemas de avaliação sejam mal utilizados (em Portugal nem vale a pena falar do assunto).

E as revistas não arbitradas podem ter um papel importante no regular deste mesmo sistema, pois funcionam como válvula de escape e termo de comparação que pode ser muito comprometedor para as revistas com avaliação inter pares. Talvez também por isso (mas não só) eu goste e me tenha envolvido em projectos editoriais “idependentes”. Por isso, pretender ter arbitragem não significa não acarinhar o que não a tem. Muito pelo contrário."

 

PS - Jorge Raposo, o meu texto é claro e não dá lugar a equívocos. A responsabilidade da marosca é de quem constroi os seus currículos com informações falsas, não de qualquer revista. Foi isso que denunciei. Quanto ao que penso de revistas sem arbitragem e do seu papel e qualidade, basta ver a minha colaboração com a Almadan e as que eu prórpio edito ou editei.


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