Percorreu-me choque profundo quando há poucas horas soube da infausta notícia de que o amigo José d'Encarnação dá aqui nota.
O Arnaldo Pereira era um amigo seguro. E chegou a ser em certa fase da minha vida uma referência inspiradora. Foi quando ambos éramos professores e colegas na mesma Escola Preparatória Paula Vicente, no Restelo, nesses anos de braza de 1975 e 1976 e posso dizer que ele me iniciou verdadeiramente no combate político e simdical.
Acompanhei depois o percurso do Arnaldo até aos últimos anos, em que frequentávamos as casas uns dos outros e tertuliávamos sobre tudo e um par de botas, beneficiando nós em partes iguais da sua erudição e das suas laranjas e peras, no pomar anexo à Torre dos Lafetás.
Mais um que parte, "e todos, todos se vão".
Mas a lembrança do que vivemos e as virtudes cardinais, platónicas e agustinianas, que aprendemos a cultivar (a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança), permanecerão para sempre porque nos fizeram sermos o que somos e procuramos transmitir aos que nos sucederão.
Até sempre, camarada.
Luís Raposo
----- Mensagem de José D´Encarnação < jde@fl.uc.pt> ---------
Data: Thu, 11 Jan 2024 19:59:14 -0000
Assunto: [Histport] Faleceu Arnaldo António Pereira
Faleceu hoje, em Faro, onde se encontrava numa casa de repouso, o Dr. Arnaldo António Pereira. Era natural de Freixo de Espada-à-Cinta, onde nasceu a 5 de Julho de 1946.
Completou em 1969 o curso de História da Faculdade de Letras de Lisboa. Professor do ensino preparatório e secundário entre 1969 e 1976 e assistente de História na sua Faculdade de 1976 a 1989, período em que, além da actividade docente, foi membro de órgãos de gestão e participou nos processos de restruturação da Faculdade e da carreira docente universitária, bem como na organização do Sindicato de Professores da Zona da Grande Lisboa. Nessa altura publicou, tendo em vista sobretudo os seus estudantes, o livro Normas e Sugestões Metodológicas para a Apresentação de Trabalhos Escritos de História (Lisboa : Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1986).
Coorganizou, em 1980, na Faculdade, o Colóquio O Fascismo em Portugal, em que apresentou comunicação.
Em 1983 iniciou a sua colaboração com a Associação Portuguesa de Municípios do Distrito de Setúbal, orientando e promovendo programas culturais, nomeadamente no âmbito da dinamização da leitura pública. Neste contexto desenvolveu projectos de inventariação e divulgação do património, assim como a criação – ou reorganização – de bibliotecas e arquivos municipais.
Participou, em Outubro de 1986, nas Primeiras Jornadas de História Moderna, organização do Centro de História da Universidade de Lisboa (Linha de História Moderna).
A partir de 1987 passou a coordenar os serviços culturais da Câmara Municipal do Seixal, passando a dirigir o Departamento da Cultura, Desporto e Educação, cuja estrutura funcional ajudou a criar. No desempenho destas funções, coordenou e acompanhou um conjunto diversificado de programas, acções e iniciativas que representaram um contributo importante para a afirmação da identidade e a animação da vida cultural do Município. Coordenou, na ocasião, coordenado, com Luís Marques, a Exposição sobre a imprensa operária do distrito de Setúbal, de que a Associação dos Municípios de Setúbal publicou, em 1985, o respectivo catálogo (66 pág.).
Em 1993 foi eleito nas listas da CDU para a Câmara Municipal de Oeiras, tendo-lhe sido atribuída a gestão dos pelouros do Desporto e dos Centros Históricos, bem como responsabilidades no acompanhamento de projectos sobre a orla ribeirinha e a Fábrica da Pólvora de Barcarena. Representou também a Câmara Municipal de Oeiras na Direcção da Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico e no Conselho Geral da Universidade Atlântica. A sua acção e dinamismo foram aí deveras apreciados. Nessa altura, apresentou ao Congresso «O Marquês de Pombal e a Sua Época / Colóquio O Século XVIII e o Marquês de Pombal» a comunicação «Pombal e os Jesuítas algumas notas para uma compreensão do anti-jesuitismo pombalino», publicada nas p. 269-277 das respectivas Actas (Oeiras/Pombal, 2001).
Permita-se-me um pormenor: o Dr. Arnaldo teve oportunidade de adquirir a Torre dos Laftat, no Carvalhal. Como historiador, recuperou-a com todo o cuidado, respeitando a traça original e nela expôs, em lugar de honra, a cópia da coleira de escravo que, finalmente, se lograra encontrar, juntamente com outra, em Março de 2017, nas reservas do Museu Nacional de Arqueologia. A coleira ostenta a seguinte “Este preto pertence a Agostinho de Lafetá do Carvalhal de Óbidos”.
Deixa viúva a Doutora Helena Serôdio, catedrática de Germânicas pela Faculdade de Letras de Lisboa. À família enlutada, designadamente à sua filha, a Dra. Lídia Pereira, e aos seus netos, Matilde e Diogo, se apresentam os mais sentidos pêsames.
Que descanse em paz!
O corpo do Dr. Arnaldo Pereira estará em câmara ardente, no sábado, 13, na igreja de Linda-a-Velha, a partir das 16 horas; o funeral está previsto para as 12 horas de domingo para o crematório de Barcarena.
José d’Encarnação
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----- Fim da mensagem de José D´Encarnação < jde@fl.uc.pt> -----
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