Dra. Joana Pandora:
Tenho todo o gosto em responder ao seu reparo e ás questões que coloca, pedindo que não leve a mal o tom algo irreverente de alguns pontos.
1) Da sua própria intervenção deduz-se que não houve, de facto, um plano prévio para a A3, mas sim medidas à posteriori quando a obra se confrontou com o património existente. Poderia acrescentar algo mais mas julgo desnecessário.
Peço desculpa por ter-me referido ao Sr. Presidente da República como Cavaco Silva sem acrescentar o título de Professor. Um vez em Espanha num almoço oficioso disse Juan Carlos e logo vários dos presentes (do PP, um deles o alcaide) emendaram em voz alta e ar de censura: Dom Juan Carlos. Não aprendo com a idade. Mas não voltarei a repetir a graça. Nem em Espanha nem em Portugal.
2) Foi em 1989, já se passaram 21 anos, que a UAUM solicitou publicamente, pela primeira vez, através de comunicado difundido pela Imprensa, apoios para um estudo sistemático do concelho de Braga, dada a riqueza do património concelhio. Não houve resposta. Inúmeras vezes em múltiplas ocasiões, designadamente em conferências abertas ao público da cidade, sublinhei a riqueza da Arqueologia do concelho de Braga e a necessidade de maior intervenção arqueológica. Se consultar a Revista Forum encontra registo desses apelos e há testemunhas.
3) Em 1998 a pedido do Instituto Português de Arqueologia a UAUM elaborou um parecer negativo sobre o PDM de Braga, considerando que não contemplava devidamente o património arqueológico do concelho. O parecer negativo foi assumido pelo IPA, na altura presidido pelo Doutor João Zilhão, o de Boa Memória. No entanto o PDM foi aprovado.
4) Mais tarde, já no século XXI, a UAUM solicitou que a zona das Sete Fontes fosse integrada na sua área de investigação, não tendo recebido qualquer resposta esclarecedora do IPA.
5) No concelho de Braga, em acompanhamentos de auto-estradas, pedreiras, etc têm trabalhado inúmeras empresas privadas de Arqueologia. A área de trabalho da UAUM limita-se à chamada zona arqueológica (antigos núcleos urbanos romano e medieval) e mesmo essa reinvidicação que me parece legítima é questionada por entidades oficiais, designadamente pelo executivo camarário e em especial pelo Dr. Nuno Alpoim.
8) Pergunta por que motivo não se estabeleceu um campo de trabalho com alunos na zona da Setes Fontes, designadamente no espaço reservado para o Hospital. Bem nesse caso seríamos criticados por estar a competir com empresas privadas, a retirar oportunidade às intervenções das empresas privadas de Arqueologia que repito efectuam habitualmente os estudos de EIA , AIA e acompanhamentos de toda uma série de obras em Braga, como o Dolce Vita, a Quinta do Amorim, etc, etc, aliás muito aquém do que seria desejável.
9) Quanto à sua observação sobre os megafones e a rua julgo que os cidadãos de Braga têm todo o direito de se manifestar como o fizeram através da Marcha das Sete Fontes. Por outro lado suponho que a Imprensa de Braga ainda é livre e que não é controlada pela UAUM. De qualquer modo se considera que há alarme público pode sempre chamar o corpo de intervenção. Eu pela minha parte estou inocente. Nem sequer estive na Marcha, apesar de concordar com as acções populares, aliás previstas na Constituição.
Se porventura a Marcha irritou alguém e teve repercussões é normal em Democracia, o regime ainda vigente em Portugal.
10) Não sou omnisciente. Sobre a importância arqueológica da zona pronunciaram-se inúmeras entidades e pessoas desde há muitos anos.
11) Há um equívoco. A minha última mensagem era um alerta para uma eventual tentação do poder em excluir a Arqueologia das soluções para a crise, incluindo as obras públicas. Ou seja estava muito para além do problema específico do novo Hospital de Braga ao qual voltarei sempre que considerar necessário. Mas de uma coisa fiquei convencido. A Marcha das Sete Fontes foi um sucesso, pelo que vejo.
12) Estou aposentado da Universidade do Minho pelo que todos os meus comentários são de minha exclusiva responsabilidade.
Francisco Sande Lemos
Boa noite
Tenho um reparo a fazer ao texto do Doutor Francisco Sande Lemos.
As obras a que se refere durante o mandato do Professor Cavaco Silva, nomeadamente da construção da A3 entre Braga e Valença, foram acompanhadas.
É certo que pelo menos dois estaleiros foram construídos sobre vestígios importantes antes dos arqueólogos entrarem no terreno. Refiro-me a um castro perto de S. Martinho de Coura e um "forte em torrão" na zona de Silva (perto de Valença). De momento em que os arqueólogos entraram em campo, a obra decorreu segundo a normalidade prevista e todos os vestígios arqueológicos foram preservados ou o efeito sobre eles minimizado.
Mais ainda, foram feitas sondagens prévias no Castro de Calvelo, integrado nas medidas de minimização, sob a alçada da Brisa, uns meses antes das máquinas chegarem ao terreno.
Em relação ao Novo Hospital de Braga, tenho uma questão dirigida aos responsáveis pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho:
Já que desde 1993 se sabe o local de implantação do Novo Hospital, porque é que a Unidade, com a omnisciência que lhe é característica, não criou um plano de trabalhos que colocasse os alunos de arqueologia da UM a caminhar 600 metros e fazer umas sondagens que funcionariam bem como aulas práticas?
Se se clama nos jornais da zona de Braga, que a obra do Novo Hospital de Braga é um atentado ao Património, e que estão lá vestígios da Idade do Bronze e da Época Romana (e da Idade do Ferro digo eu), porque raio é que não se fez nada antes. Porque é que as pessoas que têm a mão fechada sobre o Património Arqueológico de Braga não fizeram nada e vêm agora de megafone para a rua?
A pro-actividade é a melhor forma de salvaguarda ou não me digam que vão fazer um seguro de incêndio depois da casa ter ardido.
Tenho dito
J. P.
Francisco Lemos escreveu:Boa Noite!
Braga necessita de um Novo Hospital como é óbvio. Eu sei disso melhor que ninguém por experiência pessoal. Mas há espaço para tudo.
O modo como principiaram e se estão a desenvolver as obras do Novo Hospital de Braga são preocupantes.
O sítio é dos mais sensíveis do concelho de Braga tanto do ponto de vista ambiental como arqueológico.
No entanto a obra foi dispensada de AIA e DIA pelo Despacho n.º 2720/2009. Ora o local já está previsto para ser Hospital desde 1993, conforme o próprio despacho confirma. O despacho apenas se preocupa com sobreiros e esquece o património ambiental e arqueológico.
Por outro lado, ao que parece, os procedimentos do promotor da obra, uma empresa criada a partir de uma parceria pública/privada (Grupo Mello/Somague/Ministério da Saúde) contrariam os preceitos da Constituição da República.
Finalmente considero que está a ser aberto um precedente grave. Por este ou por aquele motivo dispensam-se as obras de EIA, AIA e DIA. E a minimização é reduzida a quase zero. Hoje são imperativos de saúde pública. Amanhã a necessidade urgente de uma nova via rodoviária ou ferroviária.
Já sob o governo de Cavaco Silva houve obras que foram dispensadas de qualquer acompanhamento como a auto-estrada entre Braga e Valença que cortou inúmeros vestígios arqueológicos.
Face à possibilidade deste Governo, ou de próximos, recorreram de modo sistemático à dispensa dos habituais mecanismos de avaliação é toda a Arqueologia de Salvamento que pode desaparecer.
E se as grandes empresas não tiveram sentido de responsabilidade social, como felizmente ainda existem em Portugal, então as perspectivas futuras da Arqueologia parecem-me muito negativas.
Aqui fica o aviso,
Francisco Sande Lemos
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