Estimada Jacinta,
Devo dizer que o seu email deixou-me triste e ao mesmo tempo nostálgico. Começando pela última palavra,nostálgico porque conheci um IPA pujante, onde durante 2 anos ia todas as manhãs ou tardes, segundo os horários, ajudar voluntariamente a Cidália e a Vanda com as crivagens do Lapedo e o estudo de ossos de outros sítios: para um estudante de arqueologia de 18 anos, dava gosto participar naquele ambiente. Lembro-me também dos comentários que alguns estudantes estrangeiros que conheci no Zambujal (entre 2000 e 2004) tinham para com o antigo IPA; sobretudo os espanhóis, que tinham imensa inveja de que em Portugal existisse uma instituição que desse tão boas condições de trabalho para os arqueólogos e permitisse a investigação interdisciplinar (hoje em dia é o contrário, queremos todos ir para Espanha). Os números apresentados são de facto muito preocupantes. Há aproximadamente um ano trabalhei num projecto de 4 meses no Consejo de Monumentos Nacionales (parecido ao IPPAR, antes da existência do IPA aqui do Chile). Verifiquei que, num país com poucas tradições arqueológicas, onde há cerca de 3 anos, apenas existiam duas universidades que davam o curso e o número de arqueólogos formados, por ano, era de 10 (números totais), o Consejo de Monumentos (que pertence à DIDAM - Dirección de Bibliotecas Archivos y Museos - também ela com arqueólogos de formação nos seus quadros) apresentava, na altura, 7 arqueólogos na área especifica de arqueologia, 2 como conselheiros gerais do Consejo, e outro num cargo de assessoria. Neste época eu estava como externo (isto é mais 1). Em Portugal existem quantas universidades a formar arqueólogos? Quantos arqueólogos são formados todos os anos? Onde irão trabalhar estes jovens se o trabalho dos arqueólogos não é valorizado? Fico triste... por assistir à degradação do meu país e à desvalorização da minha profissão. Felicito-a por expor este tema. Como disse em tempos Jacques Lang - a cultura é o estado de ânimo de um país. Quanto ao tema da informação arqueológica, reconheço que ainda não entendi bem o tema, para mim relatórios, são relatórios e artigos científicos são artigos científicos; confesso que não entendo muito bem os meios termos. Ao contrário do que referi nos parágrafos anteriores, neste caso, não sei se será tão positivo voltar ao passado. Agora exige-se mais ao discurso e escrita arqueológica que nesse tempo. Um abraço Gonçalo Date: Sun, 24 Feb 2013 21:31:08 +0000 From: jacintabugalhao@gmail.com To: archport@ci.uc.pt Subject: [Archport] Arqueologia da DGPC Caríssimos colegas arqueólogos
No passado dia 1 de Fevereiro concluiu-se e remodelação da Direcção da DGPC na sequência da interrupção de funções do ex-Director-Geral Elísio Summavielle, em Novembro passado. A DGPC, como aliás as DRC’s, não possui qualquer unidade orgânica especializada em Arqueologia. Assim, para além da dispersão por uma estrutura confusa e disfuncional das valências e competências arqueológicas constituídas durante décadas, concretizou-se o desaparecimento das duas últimas unidades orgânicas de Arqueologia (DAPA e DANS), que consubstanciavam, no IGESPAR, as garantias dadas à comunidade arqueológica de que a a Arqueologia iria ser preservada. “A Arqueologia foi VARRIDA da estrutura orgânica do Estado. A apreciação e decisão em Arqueologia passa para organismos e por vezes dirigentes, sem qualquer grau de especialização técnica, conhecimento, comprometimento ou interesse nas problemáticas arqueológicas e em Arqueologia. (…) Pela primeira vez, desde a República, o Estado não possuiu uma estrutura orgânica especializada em Arqueologia, os arqueólogos não terão um interlocutor que ao mesmo tempo é um par” (in artigo no prelo, no próximo n.º da Arqueologia e História). É certo que as responsabilidades desta opção não podem ser imputadas à actual direcção da DGPC. Como é do conhecimento público e reconhecido pelo próprio, a autoria desta reestruturação orgânica, incluindo a inexplicável e insustentável manutenção de uma proto-regionalização do sector cultural (os onze ministérios do actual governo, apenas dois - Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território e Ministério da Saúde - mantêm organismos regionais), é do Director-Geral cessante, Elísio Summavielle. Contudo, situação diferente é a constituição da actual direcção da DGPC. Com a interrupção de funções da subdirectora Ana Catarina Sousa, e não nomeação de qualquer arqueólogo para a Direcção deste organismo que reúne algumas das mais relevantes funções de Tutela, a Arqueologia sofreu mais um rude golpe na sua já inexistente representação orgânica. Fazendo um rápido e esquemático historial sobre a evolução da presença da Arqueologia em organismos de Tutela, podemos observar:
* Até 1997.
** Desde 1 de Fevereiro de 2013.
Todos imaginamos como terá sido difícil lidar com os sucessivos “emagrecimentos” do Estado, que têm levado a também sucessivas fusões de sectores de gestão anteriormente autónomos. Mas no deve e haver, há um sector profundamente secundarizado, que simultaneamente é, entre os restantes (gestão de sítios e monumentos, salvaguarda de bens classificados, museus, conservação e restauro), aquele que maior crescimento verificou e maior repercussão social e cívica registou nas últimas duas décadas, a Arqueologia. A gestão arqueológica é certamente o sector com maior expressão e volume de trabalho na DGPC. Mas estas funções e tarefas não têm, na actual estrutura, qualquer funcionamento orgânico integrado; estão, digamos tresmalhadas por departamentos e divisões incaracterísticos… Os arqueólogos constituem uma parte significativa, qualificada, competente e destacada, dos recursos humanos técnicos da DGPC; mas respondem, essencialmente, a superiores hierárquicos com outras áreas de formação (apenas uma arqueóloga está em funções de chefia), que de facto, decidem. Neste panorama, era de crucial importância a manutenção de um arqueólogo na Direcção da DGPC, de forma a assegurar a integração adequada dos diversos sectores (gestão, fiscalização, licenciamento, inventário, arquivo, biblioteca, publicações, arqueociências, projectos e intervenções, etc), que ajuizasse tecnicamente os processos mais complexos, que representasse a Arqueologia e os arqueólogos, que, enfim, garantisse a representação deste importante sector ao mais alto nível na estrutura do Estado. Tenho plena consciência que esta minha posição será rotulada por alguns de corporativa. Não é! Li com atenção a recente entrevista da Directora-Geral, Isabel Cordeiro: “Não vejo diferenças entre ser arqueólogo, museólogo, gestor de monumento, conservador-restaurador ou director de museu”. Não alimento qualquer tipo de rivalidade ou competição com nenhum colega da área do Património. Era o que havia de faltar! Mas sempre gostava de ver o que aconteceria se esta gritante “ausência de presença” se verificasse noutras áreas funcionais da DGPC… E de Arqueologia, percebem os arqueólogos!
Saudações arqueológicas
Jacinta Bugalhão
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